A alta taxa de abstenções que rondaram na casa dos 64 porcento dos eleitores inscritos não foram votar, nos dias 1 e 2 de Dezembro, devendo-se o facto, ao modelo de democracia representativa que o País adoptou, constata o estudo publicado em Maputo, denominado Urna de costas voltadas: abstenção eleitoral 2004, pelo Observatório Eleitoral, dirigido por Brazão Mazula, reitor da Universidade Eduardo Mondlane.
Diz que uma escola de pensamento explica o elevado grau de abstenção, especialmente quando se trata de eleições dos governos locais onde em 1998 houve 85 porcento de abstenções e em 2003 foram verificadas 76 porcento, com a limitada relevância do modelo formal da democracia eleitoral institucionalizada aos níveis local e nacional.
Prossegue realçando que apologistas desta escola afirmam que o modelo seguido não só é extremamente caro, como também não corresponde sequer às necessidades da maioria dos moçambicanos. Argumentam que é possível encontrar outros modelos mais relevantes e baratos de participação nos processos políticos, sobretudo ao nível de base.
De acordo com este ponto de vista, participar ou não nas eleições não faz muita diferença.
O sistema político continuaria bipolarizado entre os dois maiores partidos, a Frelimo e Renamo-UE, com resultados pouco tangíveis para o povo produzidos pelos deputados, muitas vezes, vistos como gente que vem à capital, não fazendo nada mais que discutir sem sentido e dormitar na Assembleia, para, no fim, receber muito dinheiro pelo “emprego”.
Constata que esta hipótese pode estar relacionada com a observação feita sobre cultura política, isto é, no sentido de que num dado país, a adopção popular e próactiva de um modelo de democracia depende da cultura política prevalecente.
Outro aspecto enfatizado por esta escola de pensamento é de os 11 círculos eleitorais moçambicanos serem demasiado grandes de tal modo que os eleitores, praticamente, não conhecem os candidatos ao
parlamento, com a agravante de serem apresentados pelas listas dos seus partidos.
Consequentemente, os aderentes deste ponto de vista clamam por uma reforma profunda do sistema
eleitoral que inclua a redefinição dos círculos eleitorais e não só.
TRIBUNA FAX - 24.01.2007