Canal de Correspondência - por Fernanda Queirós
O empurrão no Silva Dunduro foi para se poder destruir? (*)
Li no vosso Canal (12/2) a notícia sobre a Casa da Cultura da Beira (CCBeira). Fiquei desolada. Como é possível permitir-se o desmoronar de um espaço de construção de identidade, de um espaço onde o futuro também se desenha atravessando as idades que o tempo tem? Não pode ser possível a indiferença.
Esta nota é ainda para recordar, desculpem-nos, é para recordar e registar o tempo que a notícia do Canal esqueceu, um outro tempo na Casa da Cultura da Beira. O tempo do Director Silva Dunduro.
Testemunhei, ao longo de alguns anos, a sua gestão, o modo como ele coordenou, incentivou, dinamizou cultura na cidade da Beira.
Colaborei com a Casa da Cultura durante esse tempo precioso, tempo suficiente para observar, e até aprender como se resiste a duras carências, a adversidades desmedidas, sem desistir, sem enveredar por caminhos ínvios, impróprios que nos desafiam a cada passo da vida.
O Director não cedeu, não desistiu. Ficou em Casa para nos franquear as portas, abrir janelas, para a vida dos cidadãos ir passado por ali...Era a Casa de todos nós.
Era a Casa do teatro, da música, da dança, das artes plásticas, dos debates, das oficinas... A Casa do encontro, da partilha de saberes e da festa!
Era assim naquele tempo. Era assim na Casa de cultura que a Beira tinha.
Por vezes, vêm a lume notícias sobre a sua degradação. É preciso que venham mais. É urgente que os cidadãos não permitam que a Casa venha abaixo.
Nada se perde, tudo se recupera se houver gente atenta, se a vontade e a justiça forem prioridades. A vontade de revisitar o tempo para que ele não se dilua no passado e se possa representar no futuro. A justiça, a justiça é o imperativo substancial, é o incontornável dever para com os cidadãos, é o reequlíbrio da sua humanidade.
Devemos esta vontade e justiça ao homem e à Casa que ele soube dirigir.
Casa que continua sendo, ainda que a estiolar, a "nossa" Casa de Cultura.
Para o Silva Dunduro (“Um homem de cultura”) ficam as minhas loas e a minha gratidão.
Aos espíritos de Sofala reclamo o desejo: que nos protejam do lado inculto da modernidade!
(Fernanda Queirós / ex-Leitora do Instituto Camões, na Beira)
(*) O título é da inteira e exclusiva responsabilidade do «Canal de Moçambique».