Não, obrigado!
Enquanto as autoridades moçambicanas se desmultiplicam por várias frentes para acudir a várias calamidades naturais que atingem o país, parceiros internacionais põem em cima da mesa várias soluções para apoiar as vítimas dos desastres.
A "Save the Children" da Grã Bretanha defende a entrega de cheques às famílias afectadas pelas cheias do Vale do Zambeze no período que vai de Março a Junho, uma forma de reabilitar a vida dos deslocados e ajudar a dinâmica dos mercados locais. O período compreende a fase em que as pessoas começarão a deixar os campos de deslocados e a preparar as sementeiras para as colheitas da época fresca em Junho.
"Não queremos minar a validade e importância das intervenções em ajuda alimentar, queremos evitar a dependência, estimular os mercados locais e dar às pessoas a dignidade de escolha", defende Chris McIvor, director da "Save the Children".
Confrontado com a possibilidade de entregar "dinheiro vivo" aos deslocados, um funcionário do INGC (Instituto Nacional de Gestão das Calamidades) é completamente contrário à ideia. Argumenta que tal iniciativa pode provocar inflação, distorcer a dinâmica local, criar dependências e enviar ao Governo
uma factura que não podemos suportar".
A proposta da "Save the Children" é cautelosa e McIvor faz questão em sublinhar que é preciso que este assunto seja debatido junto da comunidade humanitária para que seja decidido o que é mais apropriado.
O funcionário do INGC considera que a distribuição de comida gratuita se faz em termos "estritamente humanitários", mas há consciência que em tais situações há sempre desvios, negócios paralelos e os mercados locais acabam por ser afectados. A zona de cheias do Zambeze é rica em colheitas de cereais e as próprias compras para auxiliar as famílias afectadas são feitas na zona, uma política que tem o apoio do Programa Mundial da Alimentação (PMA).
O funcionário do INGC defende que, a ser entregue "dinheiro vivo", esta acção deve ser feita através de instituições vocacionadas para o micro-crédito, "pois é preciso dar sempre um valor e um custo ao dinheiro e não criar situações que distorçam o tecido económico e agravem a dependência".
A política de entregar dinheiro às pessoas afectadas por calamidades não é nova em Moçambique. Durante as cheias de 2000 em Gaza, milhares de camponeses receberam dinheiro para reconstituírem as suas vidas e pequenos empréstimos através de instituições de crédito foram concedidos a agricultores, comerciantes e pequenos industriais no vale do Limpopo. Segundo a última avaliação feita pelas Nações Unidas em coordenação com o INGC há 120 791 pessoas afectadas pelas cheias do vale do Zambeze, 71 000 das quais estão agora em centros de acomodação. O INGC eventualmente terá de acudir a uma nova frente criada a Norte de Inhambane e no Sul de Sofala pelo ciclone Favio e já há planos de contingência para uma nova depressão tropical que se apoxima de Moçambique e que foi denominada Gamede.
SAVANA - 22.02.2007