«Arquivo do Património Cultural» de SOFALA
…as obras disponíveis são propriedade pessoal do delegado do ARPAC
“Desde 1980 que não são compradas obras de consulta para o «ARPAC». As obras existentes, e já cansadas, de antropologia, foram compradas em 1980” – José Chuva
Por trás dos muros das instituições que os dados estatísticos e os discursos pintam como bem sucedidas para que passe a imagem de um país de sucesso e onde está tudo bem – “a nação está bem!” – cada dia que passa reserva-nos uma surpresa de pasmar. Desta vez, eis-nos, de novo, no Arquivo do Património Cultural (ARPAC) na Beira. Não para voltarmos a falar do estado de penúria das suas instalações. Apenas para dizer que o acervo e a biblioteca estão sem novas obras desde 1980. Há 27 anos que existe o ARPAC apenas para empregar funcionários do Estado. Quanto a garantir-se a utilidade da instituição, nada tem sido feito. Está ali apenas mais um mono, para se justificar a existência de um ministério. É o que parece!…
O «Canal de Moçambique» (Canal n.º 256) escreveu sobre as instalações que estão num autêntico estado de penúria. Agora voltámos ao tema para dizer que não há obras para consulta. De momento, as obras que ali estão expostas, na sua maioria, nem pertencem ao ARPAC-Beira. São, segundo o próprio, propriedade pessoal do responsável da instituição, José Chuva.
“As obras que estão expostas dentro desta instituição são minhas. Os estudantes e singulares que aparecem com propósito de consultar algo, aproveitam as minhas obras. Há muito tempo que não fazemos investimentos em livros”, afirma ao «Canal de Moçambique» o respectivo delegado do «ARPAC» na Beira.
“Tenho exposto para consulta pública obras pessoais de antropologia, sociologia, história e psicologia, porque esta casa deixou de as ter, há muito tempo”.
Ainda segundo Chuva “a instituição tem 3 obras de antropologia cansadas e incompletas. Tem falta páginas. Também já não tem bom aspecto para consulta”.
“Desde 1980 que não são compradas obras de consulta para o «ARPAC». As obras existentes, já cansadas, de antropologia, foram compradas em 1980”.
Na mesma ocasião Chuva revelou ao «Canal» que além do estado deplorável das instalações e das últimas obras terem sido adquiridas há 27 anos, a instituição debate-se com um outro problema. As cadeiras e as mesas não chegam para o público que ainda lá vai ler os livros de José Chuva.
“A biblioteca não tem cadeiras e mesas suficientes para atender a demanda de estudantes e público que aqui ocorre, diariamente”.
Entre Dezembro de 2006 e Janeiro/07, a biblioteca do ARPAC-Beira foi visitada por estudantes, maioritariamente, e público em geral. Ao todo 2241. Um número que deixa bem claro o interesse que os cidadãos, sedentos de conhecimento, revelam pela instituição que o governo, como o provam os factos, votou ao abandono, em atitude a tocar raias de incúria.
As perguntas que resta são simples e incisivas: para que serve um Ministério da Cultura que deixa centros de cultura chegar ao ponto a que não só o ARPAC na Beira, como também outras, foram deixadas chegar? Será para com o ministério se gastar o pouco dinheiro que existe para a Cultura? Afinal a prioridade não é satisfazer os cidadãos? Veremos o que terão a dizer as autoridades que o «Canal de Moçambique» tentará ouvir para também trazer aos leitores a sua versão.
(Conceição Vitorino) - CANAL DE MOÇAMBIQUE - 28.02.2007