A reabilitação da cidade histórica da Ilha de Moçambique e a construção de uma "Vila Milénio" são algumas das "medidas imediatas" a adoptar para inverter a actual degradação daquele património Mundial, classificado pela UNESCO desde 1991.
A decisão foi tomada num seminário internacional de dois dias sobre a gestão do património da ilha, que terça-feira terminou, no qual participou o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho.
De acordo com a directora nacional adjunta da Cultura, Solange Macamo, "o encontro aprovou um plano de acção, contendo tarefas urgentes para o resgate da situação de degradação em que se encontra a Ilha de Moçambique".
A reabilitação da Fortaleza de São Sebastião, a principal da ilha, e a construção de uma Aldeia do Milénio, para o realojamento de parte dos 43 mil habitantes da ilha, são algumas das acções urgentes previstas no referido plano de acção, afirmou Macamo. As obras da Fortaleza de São Sebastião, avaliadas em 1,6 milhões de dólares, serão custeadas pelo Governo japonês, enquanto a construção da "Vila Milénio" do Lumbo, no distrito de Nampula (norte), deverá ser paga de Portugal. A criação de "Vilas Milénio", enquadrada nos objectivos de desenvolvimento do milénio fixados pelas Nações Unidas em 2000, visa dotar povoações pobres de instrumentos que lhes permitam sair da situação de pobreza extrema em que se encontram e desenvolverem-se por si próprias, da base para o topo.
A Ilha de Moçambique, Património Mundial da Humanidade desde 1991, tem-se debatido com um problema de degradação do seu património histórico classificado pela UNESCO, a que acresce o do excesso de população. Com apenas três quilómetros de comprimento e 300 a 400 metros de largura, a ilha acolhe quase 43 mil habitantes, de acordo com o último censo, realizado em 1997.
Além de ajudar a aliviar a ilha do excesso de população, a "Vila Milénio" cumpre também uma das metas preconizadas pelas Nações Unidas nos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, para a redução a metade do número de pobres no mundo, até 2015. No seminário de dois dias, os participantes aprovaram ainda o Plano Director de Desenvolvimento Integrado da Ilha, através do qual serão implementadas melhorias em todos os campos.
"Os problemas da Ilha não se prendem só com a degradação das fortalezas, pois há também aspectos relacionados com a situação dos habitantes da área, como a água, saúde, educação e saneamento, que estão acautelados no plano director", enfatizou a directora nacional adjunta da Cultura de Moçambique.
Nessa perspectiva, o ministro da Educação e Cultura de Moçambique, Aires Aly, exortou os outros sectores do Governo a assumirem as responsabilidades inerentes à sua esfera de actuação, tendo em vista o desenvolvimento integrado da Ilha de Moçambique.
No encontro foi também acordada a necessidade do funcionamento do Gabinete de Conservação da Ilha de Moçambique, para o que foram indicados os respectivos responsáveis, disse Solange Macamo.
"Desta vez, conseguimos avanços importantes para a causa do restauro da ilha, porque além de uma ampla participação dos interessados, ficou vincada a necessidade de uma melhor coordenação nas acções de recuperação da Ilha de Moçambique", enfatizou. A Ilha de Moçambique é um dos principais marcos da presença colonial portuguesa em Moçambique, com um vasto património arquitectónico, destacando-se a Fortaleza de S. Sebastião, a maior da Africa Austral, a Torre de S. Gabriel, construída em 1507, ou a Capela da Nossa Senhora do Baluarte, de 1522. A cidade insular que deu o nome ao que é hoje Moçambique, com três quilómetros de comprimento e cerca de 400 metros, tinha como principal comércio o tráfico de escravos para o Brasil.
LUSA - 07.02.2007