Recordando um trabalho de Gouvêa Lemos, nos idos anos 60 do século passado:
Desejada há quatrocentos anos, a ponte nasceu tarde
— é o que pensam na ilha de Moçambique, alguns dos seus mais lúcidos residentes. Já não é possível deter Nacala. Nacala é um porto propriamente dito, um milagre na costa oriental de África, será infalivelmente a porta do Norte
— consideram eles, com algum desgosto.
Mas não desistem, mesmo assim; agora, que a ponte existe e já funciona, defendem a ideia do porto de Moçambique e arrancam para uma campanha por uma nova ponte-cais. E se arrancam para uma campanha, aqueles homens da Ilha da Teimosia nunca mais param; teimarão nela, ainda que seja por mais quatrocentos anos
— disse-me um deles, com a ironia duma certa descrença.
Pois a ponte, como era de prever, já modificou a vida na Ilha, já começou a influir na fisionomia da cidade, já alterou o seu ambiente repousado e tradicionalíssimo. Muitos são os que assistem ao fenómeno com júbilo desvanecido; outros, porém, enfrentam-no com melancolia, saudosamente.
O contra-senso do sonho.
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