DE MOÇAMBIQUE
Apesar do intenso barulho e música e o ulular de línguas, (não se diz ulular, tem um nome próprio) consegui adormecer bastante bem, o que aliás é habitual.
Durante a noite comecei a sentir-me muito indisposto, corpo partido e com vontade de vomitar e não dormi mais nada durante várias horas.
Não tinha apetite. O comer era um suplício e uma miragem.
De vez em quando a transpirar, embora momentâneo.
Como ao fim do dia não me sentia melhor fui fazer o teste da malária.
Que martírio foi este dia a dar aulas de informática. Indisposto e ter de correr à casa de banho para vomitar.
Foram algumas vezes durante o dia que isso aconteceu.
Nem sei o que podia vomitar, pois não tinha comido mais nada.
A Ercília, outra voluntária portuguesa, vendo a minha falta de apetite, qual mãe solícita, pediu ao João, cozinheiro da missão, para fazer um arroz branco com batatas. Saiu massa, com puré, cebola e não sei que mais.
Perguntei-lhe se não tinha arroz.
Claro que não houve resposta.
São anos de hábitos enraizados e com pouca capacidade para variar.
Às 14 e pouco fui fazer a análise. Às 17 e pouco veio o resultado e as respectivas dozes de medicamentos.
Concluo que o preventivo não é eficaz.
Como a indisposição era tanta suspendi as aulas da tarde e as do dia seguinte.
Seguiu-se o sábado e o domingo pelo que só voltaria a ter aulas 2.ª feira.
Para o jantar a Ercília pediu novamente carne grelhada.
Como aconteceu com o almoço, não lhe pus a vista em cima.
A Ercília foi-lhes perguntar pela carne e a resposta foi o silêncio.
É que só o cheiro da comida enjoa. A vontade de comer não é nenhuma.
Sempre tenho feito vermelhão e prurido nas picadas de insectos. Aqui só me aconteceu uma vez. Será que foi logo o malfadado mosquito?
Até hoje não usei repelente, embora o tenha trazido, pois quase não se vêem insectos. Vêem-se menos do que em Portugal.
Estávamos numa altura em que o clima é muito agradável.
Liguei para casa. Desliguei e ligaram-me de seguida. Mal desliguei lá fui de novo em passo acelerado deitar a carga ao mar.
Precisando tanto de descansar tive que estar até às 22 horas para tomar a primeira dose de medicamentos, voltando a tomar às 6 da manhã.
Depois do jantar foi-nos dito que havia azeite puro de oliveira português. Foi a primeira vez que o vi aqui.
Os padres da missão sempre estão atentos aos nossos gostos e os procuram satisfazer o que nem sempre é possível.
João José Pereira da Silva Antunes(Voluntário)