A barragem de Cahora Bassa, actualmente um dos principais activos da economia moçambicana, foi alvo de indiferença e quase rejeição por parte do Governo no dia em que entrou em funcionamento, fez, segunda-feira, exactamente 30 anos. O facto de a construção da barragem - o mais colossal empreendimento deixado por Portugal em todo o império - ter sido vista como uma estratégia para criar uma barreira física à progressão da guerrilha deste movimento para o Sul do Zambeze, contribuiu para que a sua inauguração fosse completamente ignorada na época. A verdade é que o estaleiro da construção da barragem, começada a edificar em 1969 - quando ocorreu o 25 de Abril de 1974, os trabalhos de construção civil estavam praticamente concluídos - nunca chegou a ser afectado por acções subversivas, graças a um perímetro militar montado em seu redor para o manter inexpugnável.
A circunstância de as autoridades coloniais portuguesas terem acordado na altura com o regime do “apartheid” os fornecimentos em exclusivo da energia da HCB a este país irritou Maputo na altura, levando o então Presidente, Samora Machel, a afirmar: “Cahora Bassa não é nossa”. “A imprensa não dedicou nada à inauguração da HCB, na altura isso não era um assunto de interesse nacional, dizia respeito à Portugal e à África do Sul”, disse à LUSA Alves Gomes, à época director da Revista Tempo. Gomes afirmou que, sob o ponto de vista económico, a HCB era “um enorme passivo”, devido às dívidas que Portugal contraiu para poder construir a infra-estrutura.
Por outro lado, o acordo de fornecimento com a África do Sul também não agradava a Moçambique, devido à política de segregação racial que aquele país seguia, assinalou aquele antigo jornalista.
“Um ano antes da inauguração da HCB, o Presidente Samora Machel reuniu-se connosco e disse que a prioridade era a luta contra os regimes minoritários brancos da África Austral”, acrescentou Alves Gomes.
Zacarias Tonela, na altura jornalista do Notícias, o diário de maior circulação em Moçambique também referiu que a inauguração do empreendimento “passou despercebida para muitas pessoas”.
“Eu era novo e imaturo no jornalismo, mas não lembro que alguma ênfase tenha sido dada ao tema da entrada em funcionamento da HCB”, frisou Tonela. Portugal e Moçambique assinaram em Outubro do ano passado um acordo para a transferência de capital da Hidroeléctrica de Cahora Bassa, a empresa que gere o empreendimento.
Nos termos do convénio, assinado pelo presidente moçambicano, Armando Guebuza, e pelo primeiroministro
português, José Sócrates, Moçambique adquiriu a Portugal, por 700 milhões de dólares (533,5 milhões de euros), 67 por cento do capital da Hidroeléctrica de Cahora Bassa, passando a ficar com 85 por cento do capital e o Estado português com 15 por cento.
Moçambique detinha 18 por cento e Portugal 82 por cento.
O convénio estabelece Janeiro de 2008 como prazo para o pagamento pela compra do capital da HCB.
Recentemente, o governo moçambicano adiantou que aguarda resposta a convites que endereçou a várias instituições financeiras para concessão de um empréstimo que assegure o pagamento.
(In Lusa) - DIÁRIO DE NOTÍCIAS(Maputo) - 28.03.2007