Canal de Opinião - por Noé Nhantumbo
Paiol de Malhazine
Dramático, negligência, trágico são alguns dos adjectivos qualificativos que se podem ler na imprensa moçambicana sobre as explosões do paiol das FADM localizado em Malhazine, subúrbio da capital moçambicana Maputo. O outro lado da moeda é todo um recuar estratégico de alguns dos bajuladores mais frequentemente activos do regime. Distanciam-se dos factos procurando arrastar as pessoas a lerem coisas e assuntos bem distantes do nosso país. Tudo na tentativa de na sua douta sabedoria, não terem que responder ou questionar coisa alguma sobre o que aconteceu. Vão para o Iraque, ou para Washington quando os nossos problemas estão bem próximos. Ninguém questiona que se consuma informação ou textos sobre outros horizontes. Mas seria importante e bom para o país que alguma da “fauna acompanhante” e de defensores do regime despisse as cores partidárias e vestisse as cores na Nação, de modo a olhar com olhos de ver os problemas e contribuir para a sua solução. Moçambique chama por todos e a sua dignidade merece! É preciso salvar Maputo de mais e pior. E o resto do país onde haja paióis, idem.
Acidentes acontecem até em países melhor estruturados que o nosso. A natureza humana não é perfeita e numa altura como esta em que uma tragédia nacional aconteceu, todos nos devemos unir no auxílio dos sinistrados. Essa é a prioridade de momento.
Mas porque também é normal que se reflicta sobre o que aconteceu e daí tirar conclusões, importa que o acontecido seja analisado sob todos os pontos de vista possíveis.
Nomear uma Comissão de Inquérito já foi um passo certo. Contudo as sucessivas explosões que já ocorreram em Maputo e Beira, em paióis das FADM, levam a que se interrogue sobre a competência técnica local para lidar com o assunto.
É de supor que as entidades governamentais responsáveis por este pelouro considerem importante e essencial contratar entidades externas, com o perfil técnico adequado no sentido de proceder a uma peritagem das condições em que as explosões ocorreram e que medidas técnicas são de implementar para se evitar surpresas futuras do mesmo tipo.
Os juristas que fazem parte da Comissão de Inquérito não possuem os conhecimentos técnicos necessários neste caso embora sejam capazes de intervir em assuntos do seu fórum. Pode ser que sejam capazes de encontrar culpados ou de os ilibar. Juristas servem para essas coisas, mas não servem neste caso para salvar Maputo e sobretudo quem cá vive que agora anda com o coração nas mãos a cada estrondo que ouve.
Foi importante ver o Presidente da República envolvido e fazendo apelos à calma embora tenham sido caricatas algumas das intervenções do ministro de Defesa. Sobretudo sobre como se devia proceder em casos do género.
Que o momento não é de “caça as bruxas”, é verdade, mas neste país raramente se caça alguma coisa a não ser os caçadores furtivos que dizimam alguma da fauna ainda existente.
Importa que imbuídos de sentido de Estado de Direito, que se accionem os mecanismos pertinentes na busca da verdade. As vezes é necessário que algo de grave e transcendente aconteça para que as instituições “acordem” e se ponham em movimento tendente a realizar o que são as suas obrigações.
Que desta explosão do paiol se tome consciência crítica de que os ministérios existem para fazer alguma coisa de concreto e que a responsabilização tem de tornar-se na regra e não a excepção na maneira de estar no governo. Além de que já se faz tarde para o governo deixar de ser uma loja de famílias!…
Por isso pede-se que haja isenção e profissionalismo na investigação do que aconteceu e que os resultados venham a ser conhecidos em tempo útil.
Se for caso para que «rolem cabeças», então que isso aconteça na estrita observância dos princípios da responsabilização. O país tem de enterrar os seus mortos e seguir em frente sem pretensiosismos partidários como certa imprensa quer passar para o público.
Há que virar o indicador para nós mesmos quando é caso disso.
É hora de mudar mesmo e não prometer apenas. O apelo à mudança já se está a escrever com sangue de inocentes, pacatos, trabalhadores e amantes da Paz. Até com sangue de crianças. Deixar-se de tratar de «businesses» dentro dos gabinetes do Estado, talvez também seja um bom começo para que o Estado deixe de ser uma praça de esquemas.
(Noé Nhantumbo) - CANAL DE MOÇAMBIQUE - 28.03.2007