Explosões de Malhazine
- admite agência especializada num relatório preliminar em que aponta possíveis causas da tragédia de 22 de Março
“É sabido que as FADM dispõem de munições de Fósforo Branco” e possivelmente as explosões de Malhazine terão sido causadas pela presença de Fósforo Branco. Este componente químico poderá ter sido inflamado devido às temperaturas elevadas registadas.
Um relatório preliminar sobre as explosões do paiol de Malhazine, elaborado pelo Centro de Coordenação do Sudeste e Leste Europeu para o Controlo de Armas Pequenas e Ligeiras (SEESAC), refere que a causa mais provável foi a “deterioração das condições físicas e químicas das munições e explosivos.” O relatório especifica que a “decomposição auto-catalítica dos propulsores das munições resulta em ignição espontânea”. Este fenómeno, acrescenta o relatório, é comum em munições do tipo de obuses de morteiro, os quais fazem parte dos arsenais das FADM.
Refere o relatório que se desconhece o estado dos propulsores armazenados nos paióis das FADM, incluindo o de Malhazine, acrescentando que nunca se “efectuaram ensaios à capacidade de tais propulsores, nem tão pouco as FADM dispõem dos respectivos registos.”
Numa escala de probabilidades, o relatório da SEESAC situa a deterioração das condições físicas e químicas das munições e explosivos na categoria de “Probabilidade Alta”. Na categoria “Média a Alta”, o relatório que temos vindo a citar diz que possivelmente as explosões de Malhazine terão sido causadas pela presença de Fósforo Branco. Este componente químico poderá ter sido inflamado devido às temperaturas elevadas registadas na capital moçambicana. O relatório salienta que “é sabido que as FADM dispõem de munições de Fósforo Branco”, mas que a presença desse tipo de munições em Malhazine carece de confirmação.
O relatório afirma que o Ministério da Defesa impediu que pessoal afecto à SEESAC tivesse acesso ao local das explosões apesar de inúmeros pedidos oficiais nesse sentido. A SEESAC levanta duvidas quanto à fiabilidade do inquérito anunciado pelo pelouro de Tobias Dai pois é “necessário um grau de conhecimentos técnicos para que se levem a cabo investigações eficazes” e “dado que a entidade investigadora é normalmente a autoridade responsável pela gestão e armazenamento das munições, isso compromete a imparcialidade e independência das investigações, causando relutância em se atribuírem responsabilidades.” Todavia, o secretário permanente do Ministério da Defesa afirmou a um representante da SEESAC que uma comissão de inquérito “independente” composta por membros deste órgão do governo iria investigar o incidente.
Fósforo Branco
A existência de munições à base de Fósforo Branco (WP) nos paióis da FADM, tal como referido no relatório da SEESAC, vem confirmar uma suspeita antiga, que data do tempo da guerra civil entre Renamo e o governo da Frelimo, ou seja, o uso de armas proibidas. Concretamente, durante esse conflito as forças opostas ao então regime monopartidário acusaram sistematicamente os seus oponentes de uso de armas incendiárias como Napalm e outras à base de WP, o que provocou um largo numero de vitimas entre guerrilheiros e a população civil que vivia em zonas controladas pelo movimento de Afonso Dhlakama. Um dos incidentes ocorridos durante a guerra para o estabelecimento de um regime democrático em Moçambique teve lugar na região do Búzi, em Outubro de 1981, em que zonas rurais foram submetidas a intensos bombardeamentos aéreos com recursos a armas incendiárias, causando pesadas baixas entre a população civil, para além da destruição de plantações agrícolas.
Convém referir que os arsenais das FADM, especialmente na região Sul do país, incluindo o de Malhazine são provenientes na sua totalidade do espólio das extintas Forças Populares de Libertação de Moçambique-FAM, braço armado do partido Frelimo no regime de partido único. (Redacção)
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 29.03.2007