As explosões do Paiol de Maputo poderão ter sido causadas por uma combinação de vários factores, incluindo "erro humano" e falta de "condições de manuseamento, armazenamento e de conservação" dos artefactos ali depositados.
Esta conclusão está contida no relatório hoje divulgado pela Comissão de Inquérito encarregue de averiguar a origem da tragédia e que foi entregue, no último sábado, ao Presidente moçambicano, Armando Guebuza.
"A Comissão de Inquérito concluiu assim que é aceitável a associação de causas relacionadas com as condições de armazenamento e conservação, as condições climatéricas conjugadas com o período de vida útil dos artefactos", lê-se no relatório distribuído aos órgãos de comunicação social em Maputo.
"Por outro lado, a ausência de inspecções técnicas e a manifesta irregularidade de visitas de inspecção visual e, finalmente, a inobservância das regras de experiência apropriada relativamente a guarda e manutenção de artefactos militares" terão também contribuído para o acidente, que matou 103 pessoas e feriu mais de 500, indica o documento.
A Comissão de Inquérito, criada por despacho presidencial, refuta as alegações de que as explosões tenham resultado da tentativa de extracção de mercúrio ou de sabotagem.
No entanto, os investigadores admitem que as mesmas poderão ter sido provocadas por "efeitos climáticos, tais como exposição ao sol, chuva, calor e frio" e o "período de vida útil dos artefactos" depositados no paiol do bairro de Malhazine.
Por isso, a Comissão de Inquérito recomendou a destruição de todos os artefactos obsoletos, a realização regular de inspecções e o cumprimento rigoroso das regras e procedimentos relativos ao armazenamento e conservação daquele matéria bélico.
Depois de uma análise preliminar do relatório, o chefe do Estado moçambicano instruiu o Governo a acelerar o processo de destruição dos engenhos obsoletos e da transferência dos paióis espalhados pelo país, para locais mais adequados e seguros, referiu fonte presidencial.
Armando Guebuza deu também orientações ao executivo moçambicano para providenciar apoio às populações afectadas para a rápida normalização das suas vidas, processo avaliado em aproximadamente 10 milhões de euros.
Esta actividade deverá ser coordenada pelo recém-criado gabinete de gestão do processo de reinserção social das vítimas das explosões do Paiol de Malhazine, que, entretanto, toma posse na próxima sexta-feira.
O gabinete terá como missão gerir o processo de reposição de bens móveis e imóveis das populações afectadas pelo acidente do dia 22 de Março passado, que atingiu mais de uma centena de estabelecimentos habitacionais e comerciais.
A Comissão do Inquérito foi chefiada pelo juiz presidente do Tribunal Administrativo, António Pale, e integrada pelo o juiz presidente do Tribunal da Cidade de Maputo, Augusto Paulino, e a directora do Centro de Formação Jurídica e Judiciária de Maputo, juíza Benvida Levi.
NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 12.04.2007
NOTA:
Se uma comissão de civis chegou a estas conclusões, como é que os "militares" não repararam nestas falhas durante anos? Como é que o Ministro da Defesa (o actual e os antecessores) ainda conseguem dormir sendo a negligência tão gritante e manifesta. Só em Moçambique. Só em África. Que Deus se amercie do seu povo.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE