Douglas Kabotolo tem um pequeno complexo turístico em Nbweka, perto de Cóbuè, mas chegar ao “Mchenga Webe” (areia bonita) é uma autêntica aventura.
O Lago Niassa é um espelho de água turquesa, translúcido, cheio de cíclidos e mais um milhar de outras espécies de peixes que são mais numerosas que todas aquelas existentes nos mares da América e da Europa. “É um mundo fantástico e precisa de ser protegido”, diz-nos Patrick Simkin. Há oito anos ele chegou ao lago à procura de um destino para um projecto de turismo responsável. Encontrou-o no “mar de estrelas”, onde a areia faz nkwichinkwichi debaixo dos pés. “Nkwichi” é o nome do lodge que abriu há três anos. O “Nkwichi Lodge” e o “Mchenga Webe” começam a ser conhecidos. Duas realidades turísticas na margem moçambicana do Niassa, como se diz lago em nianja, cuja profundidade chega aos 700 metros.
Começam agora a aparecer na margem moçambicana do lago alguns projectos turísticos ainda tímidos, que se fossem mais ambiciosos e ligados à Reserva de Fauna Bravia do Niassa, podiam fazer da província um fantástico destino turístico. A biodiversidade aquática é riquíssima. A pesca artesanal feita em pequenas almadias é de fraca rentabilidade. Patrick Simkin e outros empreendedores espanhóis, holandeses e britânicos, investiram 500 mil dólares em seis chalets para 14 hóspedes. Neste momento, estão a ser construídas mais duas casas. O “Nwichi Lodge” é um luxuoso empreendimento, feito em material local. O arquitecto foi o próprio Patrick Simkin, um jovem de 36 anos nascido na Suazilândia.
O programa African Safari Lodge, implementado em Moçambique há ano e meio, seleccionou o “Nwkichi Lodge”, como um dos projectos-piloto que mostra como o ecoturismo, se praticado de forma responsável, pode trazer benefício à comunidade local e para o desenvolvimento rural. “Nós contribuímos para a construção da escola”, explica Patrick. “Trabalhar com a comunidade nem sempre foi fácil. Não era apenas um problema de língua. As pessoas não tinham experiência com o mundo externo. 95% do nosso staff nunca tinha tido um emprego antes. E a maior parte das mulheres tinha um nível de educação extremamente baixo. Hoje, uma das nossas melhores directoras é uma senhora local. E Douglas não é apenas um dos nossos funcionários. Hoje é nosso colega.”
Douglas Kabotolo aprendeu a fazer turismo com Patrick. Há sete anos era pescador, como a maioria dos homens do lago. “Pescamos e vendemos o peixe em Lichinga, mas não é muito rentável. As machambas dão pouco, e só para o nosso próprio consumo. Precisamos de dinheiro para comprar as outras coisas”, conta. “Comecei a trabalhar com o Patrick. Hoje tenho o meu empreendimento turístico, com um staff de três pessoas. Ensino-lhes tudo o que aprendi aqui. Cada um deve saber fazer um pouco de tudo, cozinhar, receber os clientes”, diz-nos Douglas. E até levá-los para o safari no mato para ver as várias espécies de animais, elefantes, cães selvagens, leões. O complexo “Mchenga Webe” está em Nbweka, a aldeia onde nasceu e onde vive, à beira do lago, no meio de árvores de chanfuta. Em dois anos de actividade, passaram pelo “Mchenga Webe” 50 hóspedes, de vários países europeus. “Holandeses, portugueses, ingleses. Para a semana estou à espera de três hóspedes”. Douglas Kabotolo bem poderia ser o protagonista de um anúncio publicitário "produzir, consumir e exportar moçambicano". Ele quer comprar uma estrada para o seu negócio, o turismo. “Muita gente sabe do meu aldeamento e queria vir, mas a estrada não permite, sobretudo durante a época das chuvas”.
Paola Rolletta, in “Jornal Savana”, Maputo, 20.04.2007