Canal de opinião - por Luís Nhachote (*)
Moçambicanos e moçambicanas. Compatriotas. Sugeriu-me o meu governo, para que, mensalmente, faça a radiografia do Estado da Nação. E, coube aos meus assessores, fazer os apanhados da situação real no terreno. Assustador, avassalador e caótico, são alguns dos termos que o meu executivo encontrou para descrever o Estado da Nação.
Moçambicanos, moçambicanas. Compatriotas.
O Nosso Estado foi capturado pelos tentáculos das máfias seculares que de forma silenciosa e com a conivência de auto-proclamados patriotas sentaram-se por cima das leis.
Dói-nos ter de aceitar isto, mas estamos capturados.
Antes de termos feito um exaustivo levantamento do cancro que tomou conta do nosso país, procurámos identificar as razões do estágio em que nos encontramos.
Sem muito espanto, concluímos que o negócio desenfreado a que os libertadores da pátria se entregaram é a razão maior da doença que esta a corroer as instituições, com os demais impávidos e incrédulos a assistirem à derrocada do país.
O país está desalmado, perverso. O Estado é fantasmagórico. Estamos, a anos luz da razão.
Moçambicanos, moçambicanas. Compatriotas.
Como é que os nossos filhos podem chegar a “empresários de sucesso” sem que tenham trabalho justificado? Como se pode enriquecer criando patos, se a maioria dos nossos concidadãos come frangos e não tem dinheiro para tão saborosos palmípedes?
Quem os comprou?
Como é que se dão batidas de milhões de dólares num ministério e há quem diga que o país está “bom”?
Maldita ambição desmedida de alguns, que colocou o país fora dos carris.
Os membros do nosso governo receberam a orientação de instruir o povo a pedir créditos ao tesouro. E nós referimo-nos a isso nesta comunicação à Nação para que fique claro e todos saibam onde está o «saco azul».
De agora em diante se for para apontar os predadores e maus pagadores, poder-se-á de agora para a frente apontar-se todo o povo e não apenas só a elite. E daqui em diante quem não honrar com os pagamentos será julgado.
Não somos a favor de julgamentos sumários, para não corrermos o risco de viúvos e viúvas procurarem pelos seus entes queridos e para evitar que a justiça os declare como “residentes em parte incerta” ou então “ausentes”. Julgamos ser este o modo de recolocar o país nos carris.
Moçambicanos, moçambicanas. Compatriotas.
O Estado está capturado. O garante da legalidade há dias, se dirigindo-se a vós, falou nos “oito” bandidos de gravata, que se recusam a obedecer às suas ordens, quando são notificados. E para que não deixasse muitas dúvidas, disse que eles se sentam na mesma mesa connosco e riem-se connosco.
Será que eles são mesmo mais fortes do que o Estado? O Estado já não é mesmo o único e o legitimo detentor da violência legítima?
O Estado da Nação está caótico, a ponto do mecânico mais famoso do nosso país não ser conhecido pela via do seu ofício, mas por liderar esquadrões de morte.
A situação do ensino está aterradora com os nossos filhos a adquirirem os conhecimentos sentados no chão, situação surrealista num país que exporta madeira em toros.
Os «dumba-nengues» viraram o nosso cartão de visita. São os mais sofisticados de todos os supermercados à escala planetária. Lá encontramos de tudo. Até medicamentos podem ser obtidos sem prescrição médica.
Moçambicanos, moçambicanos. Compatriotas. Por hoje agradecemos a vosso disponibilidade em nos ouvir, voltaremos para o mês. Mas não tenham dúvida. O Estado da Nação é caótico.
(Luís Nhachote)
(*) Na pele de um presidente imaginário de uma República de Moçambique.
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 30.04.2007