Lisboa, 17 Abr (Lusa) – Cerca de 12 por cento da população actual de São Tomé e Príncipe tem origem europeia, nomeadamente portuguesa, revela um estudo do Laboratório de Genética Humana da Universidade da Madeira.
Três investigadores do Laboratório de Genética Humana estudaram o perfil genético da actual população de São Tomé e Príncipe através do cromossoma y, herança uniparental que passa intacto de pais para filhos.
A investigadora Rita Gonçalves disse à Agência Lusa que o estudo analisou a componente paternal do genoma (informação genética de um ser vivo) humano e o seu modo de transmissão hereditário.
De acordo com o estudo, publicado este mês, a maior parte (84,2 por cento) da população de São Tomé e Príncipe tem influência subsaariana, nomeadamente da Guiné-Bissau e de Angola.
"Esta forte ascendência subsaariana deve-se à presença de escravos de Angola e da Guiné-Bissau" em São Tomé, sublinhou Rita Gonçalves, adiantando que os colonizadores portugueses "não se misturaram" com os "escravos negros" e por isso a "fraca influência europeia".
A investigação analisou igualmente o perfil genético nos forros e angolares, etnias mais importantes em São Tomé e Príncipe.
Nos forros, a mais antiga etnia, a ascendência europeia é de 17,7 por cento, enquanto nos angolares, composta por descendentes de escravos da costa oeste africana e com maior poder, é de 8,2 por cento.
Rita Gonçalves explicou que os angolares são muito resistentes ao cruzamento com outras populações, sendo os forros mais abertos.
Contrastando com estas conclusões, um outro estudo realizado pela mesma equipa de investigadores em Cabo Verde revelou que mais de metade (53,5 por cento) da população cabo-verdiana tem origem europeia, maioritariamente portuguesa.
A investigadora adiantou que a influência europeia é visível no aspecto físico de alguns cabo-verdianos, como os olhos claros, cabelo louro e nariz menos achatado.
O "pesadíssimo contributo europeu" nesta população crioula explica-se pelo cruzamento dos colonizadores com as "escravas negras", encontro que continuou entre os descendentes, realçou a investigadora.
Segundo Rita Gonçalves, o estudo permitiu obter informações sobres as migrações, os colonizadores e as características da população actual.
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