Por Mia Couto
Na semana passada o media mediaFAX completou 15 anos. Até sexta-feira continuaremos a publicar textos emblemáticos deste jornal com história. Hoje segue o quinto, publicado no dia 03 de Julho de 1995.
O pântano não secou, em defenitivo.
Está sendo seco, num processo contínuo. As razões que determinam a existência de um pântano são estruturais e continuam a actuar. O antigo pântano não ressuscita porque os eucaliptos actuam como uma bomba de água permanente, mais eficaz que qualquer sistema de engenharia. Um hectare de eucaliptos evapora, por efeitos de transpiração das folhas, mais de 50 000 litros por dia. Se a área dos eucaliptos nas barreiras for de quatro hectares isto significa que em cada dia são bombados 200 000 litros ( o que equivale ao consumo diário de 4 000 cidadãos).
A arborização de Pretória foi feita com base nesta capacidade de os eucaliptos transpirarem muito mais do que a chuva que é fornecida anualmente.Na zona de Pretória a precipitação média anual é de 760mm e os povoamentos dos eucalipto transpiram 2500mm de água/ano. É este balanço que desfavorece o acréscimo de água ao lençol freático que é superficial.
No caso concreto, às águas pluviais recebidas directamente se acrescentam ás águas de escorrência que
são recebidas das barreiras. Se o que está em causa é um simples negócio de terrenos, então trata-se de um péssimo negócio para o comprador.
Retirem os eucaliptos - o pântano vingar-se-á!
* Biólogo. Escrito a propósito da concessão de terrenos na área dos eucaliptos, para construção de edifícios
como a sede da TVM.
MEDIA FAX - 28.05.2007