Saco Azul
Por Luis Guevane
Peguei no Jornal “domingo” de 22 de Abril de 2007 e dei uma mirada na foto de destaque na página 1. No canto inferior direito o jornal remete o leitor à página 7. Só que nesta nada consta sobre o assunto mas sim na página 6. As falhas técnicas acontecem e esta é perdoável.
Mas, voltemos ao mais importante. A foto-montagem expressa a comunicação do chefe de Estado com a população de um dos distritos de Tete. Um título acompanha-a: “No combate à pobreza – Guebuza exorta ao trabalho árduo”.
Agora olhemos para a foto. Tal como nos é dado a observar parece que o PR está a olhar para um lado e a multidão para o outro. Os olhares: para onde se direccionam todos aqueles olhares? Pronto, é a chatice da foto-montagem.
Concentremo-nos na multidão a acompanhar o discurso do PR. Será que aqueles olhares conseguem perceber o cerne da questão? O que é que está a tirar a concentração de parte da multidão que está no canto inferior esquerdo? Isso não interessa. Voltemos à multidão no seu todo. O ponto é a exortação do PR ao trabalho árduo. Sim, é um dos níveis. Será que esta multidão tem passado ou tem a cultura de passar por níveis imediatamente inferiores a este? Ou a cultura é de um trabalho árduo em que os frutos têm sido exíguos ou se quisermos insignificantes?
A foto mostra um conjunto de pessoas que parece trabalhar arduamente no seu quotidiano. Pessoas que lutam por melhorar as suas vidas e que por isso têm trabalhado arduamente. Aqueles olhares mostram que há muita vontade de trabalhar. Mas, parecem desconfiados! Sim ou não? Se não expressam desconfiança o que é que aqueles olhares tentam comunicar?
Uma passagem interessante é a que diz o seguinte: “Num outro desenvolvimento, o PR referiu que, em parte, a pobreza dos moçambicanos decorre da falta de uma exploração efectiva dos recursos naturais e humanos que abundam no país e também do facto de estarmos a demorar a convencermo-nos de que podemos acabar com a pobreza tal como no passado vencemos grandes inimigos”. (Jornal “domingo”, 22.04.07, pág. 6)
É uma passagem interessante na medida em que nos remete a muitas questões de entre as quais podem ser arroladas as seguintes: o que fazer para que a pobreza dos moçambicanos não decorra, em parte, dessa falta referida pelo PR? O que aquela multidão entendeu desta parte do discurso? Desta parte que se refere a falta de uma exploração efectiva dos recursos naturais e humanos. Quem foi eleito pelo povo para reverter esta situação “conhecida por demais”? A partir do momento em que estamos à frente do processo de combate à pobreza fazemos parte dos problemas ou das soluções?
Aquela multidão à sua frente tem no olhar a esperança de obter de si a fórmula que ela precisa para ter a certeza que irá ultrapassar as carências básicas para a sua sobrevivência como tratamento sanitário, água potável, etc.. Aquela multidão sabe, tenho a certeza, que tem o comando para proporcionar a todos uma exploração efectiva dos recursos naturais e humanos que abundam no país.
Cá entre nós: Por que razão estamos a demorar a convencermo-nos de que podemos acabar com a pobreza? Será este o problema?
SAVANA - 25.05.2007