Canal de opinião - por Celso Manguana
No passado mês de Abril o autor destas linhas esteve detido por cerca de 24 horas na Cadeia Civil de Maputo. Pude aperceber-me que Osvaldo Razac Muiaga, vulgo Dudu, tem um tratamento especial que o torna privilegiado em relação aos demais detidos.
O autor destas linhas esteve detido na Cadeia Civil em consequência de ter estado na 7.ª Esquadra em busca de informações sobre um grupo de jovens das “forças vivas da sociedade” que haviam sido também detidos devido à sua participação numa manifestação que tinha por objectivo exigir a demissão do ministro da Defesa Tobias Dai na sequência do já chamado «Massacre de Malhazine».
Na Cadeia Civil constatei que Dudu não está encarcerado em nenhuma das três alas de reclusão. Não está na ala A, nem na ala B e nem, muito menos, na ala C.
Em conversa com outros detidos fiquei a saber que Dudu está encarcerado num outro local, dentro da Cadeia Civil, em virtude do seu “estatuto especial”.
Um dado interessante é que Dudu nunca esteve presente - enquanto estive detido - na contagem do efectivo prisional que normalmente decorre nas manhãs de cada dia.
No local, também pude saber que Osvaldo Razac Muianga, desenvolve, dentro da Cadeia Civil, um próspero negócio de biscoitos fritos. Aliás, o negócio de biscoitos fritos tem tradição na sua família.
No dia em que cheguei a Cadeia Civil, vivi um episódio que pode elucidar o «estatuto especial de Dudu». Num momento em que alguns detidos insistiam em ligar a bomba de água de modo a encherem os muitos recipientes com o precioso líquido para posterior introdução nas alas de reclusão, Dudu deu uma contra-ordem alegando que era hora das suas orações, pelo que a bomba de água devia ser desligada para que as orações decorressem em silêncio.
Dizer mais para quê, se Dudu é, como mostram os factos, o recluso mais privilegiado do país de Mondlane, Machel, Chissano e Guebuza. Importa apenas é saber, porquê? Conhecer as razões do seu estatuto especial pode ser caminho para aclarar muitas questões que continuam na zona de penumbra no Processo Carlos Cardoso e não só.
(Celso Manguana) - CANAL DE MOÇAMBIQUE - 28.05.2007