— Azagaia, autor da polémica música “As mentiras da verdade”
Por Emídio Beúla
De nome Edson da Luz, mais conhecido por Azagaia nos corredores do chamado hip-hop moçambicano, o jovem é estudante universitário e canta há cerca de 10 anos. Faz parte do grupo Dinastia Bantu e lançou recentemente o seu primeiro disco a solo composto por cerca de 15 temas de intervenção social, incluindo a polémica letra “As mentiras da verdade”.
Em entrevista ao SAVANA, Azagaia disse que não se preocupa muito com a imagem das suas músicas, mas com o conteúdo que elas transmitem. “Sou um observador crítico, gosto de ler e busco inspiração em escritores como José Craveirinha e Mia Couto”, afirmou acrescentando que gosta da literatura para exprimir o seu ser.
Diz que admira a forma como Craveirinha escrevia contra a dominação colonial portuguesa e, porque o colonialismo acabou, vê no poder instituído o alvo das suas contundentes críticas. Na explicação sobre como consegue “sobriviver” num mundo que legitima e aplaude o invólucro, a embalagem, em detrimento do conteúdo, Azagaia realçou que não canta “para ter mulheres e fama, mas para transmitir a minha mensagem e experiência”.
Promove-se música que deixa as pessoas alienadas
O jovem artista vai mais longe afirmando que não é bem verdade que as pessoas preferem música sem “qualidade”, desde que excite a dança. “É claro que as editoras ainda não se aperceberam dessa realidade, e é por isso que não aceitam os nossos trabalhos. Produzimos no nosso estúdio com custos próprios e estamos a vender sem dificuldades”, disse. Prossegue afirmando que o seu disco é muito solicitado por instituições e pessoas singulares e não vê a necessidade de se promover apenas a música comercial.
E alerta: “Promove-se música que deixa as pessoas alienadas, põe-se as pessoas a dançarem para não pensar”. Aos olhos de Azagaia, a dança é tão promovida tal que chega a constituir aquilo que Karl Marx chamou de “ópio do povo”, o narcótico específico para anestesiar a mentalidade das massas populares.
Por duas semanas que a música não passava
Contrariando as declarações de Patrício Filipe, director da Rádio Cidade, Azagaia disse que “As mentiras da verdade” não passaram nos programas de música daquela rádio durante duas semanas. “Não sei que termo posso usar, mas a verdade é que, depois da estreia no programa hip-hop da Rádio Cidade, a música não voltou a tocar. Apesar de ter deixado indicações por escrito informando que “As mentiras de verdade” era cartão-de-visita do álbum e tinham que passar a música, curiosamente foram passando outra música do álbum sem me consultar”.
Acresce que, uma vez constatado o desvio, falou com um DJ daquela rádio que lhe informou que recebera ordens para não tocar a música porque pode incomodar o poder instituído. A música voltou a tocar na semana passada, justamente na quinta-feira passada, dia em que o Azagaia foi entrevistado nos estúdios daquela rádio.
Sobre a identidade do seu “informante” (DJ), Azagaia escusou-se a revelar o nome alegando que “não quero nenhuma guerra com a Rádio Cidade, só espero que cumpra com o seu papel e não censure a minha música, porque está dentro dos parâmetros da liberdade de expressão prevista na Constituição da República”.
O jovem disse estranhar o facto de a Televisão Miramar ter passado uma vez o vídeo-clip da “As mentiras da verdade”, e elogia a rádio Sfm e STV por passar sempre a música e o respectivo clip. Na TVM, a única pública do país, Azagaia disse que ainda não foi deixar o álbum, porém manifestou-se pessimista quanto à possibilidade de aquele órgão passar o vídeo-clip da música. Instado a justificar o seu pessimismo, o jovem limitou-se aos risos.
SAVANA - 18.05.2007
Veja:
http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2007/05/hiphop_irrevere.html