A minha opinião - Lemos Brito
Esta semana o mediaFAX completa 15 anos. Até sexta-feira vamos publicar textos emblemáticos deste jornal com história.
Hoje segue o terceiro, publicado no dia 11 de Junho de 1996
Os tecnocratas dos anos 30 desenvolveram a ideia do plano servindo-se de estatísticas aonde encontraram as mais extravagantes e magnas conclusões. As suas ideias tiveram sucesso, no final da segunda guerra mundial, devido à própria guerra, à penúria e ao tipo de economia militar que no fim das hostilidades se manteve. A falsa aparência da economia do mercado repete, nos limitares do ano 2000 e de uma maneira virulenta, todo o ardil da época passada que levou ao desastre da economia dirigida. Ocorrem-me, no presente momento de enaltecimento da economia livre, das privatizações e da globalização da economia, as grandes críticas dos economistas contemporâneos que puseram cobro ao embuste dos tecnocratas mas infelizmente as mesmas ideias surgem de novo de forma ardilosa.
A filosofia da economia dirigida. A economia livre constitui um sistema em que não se leva em conta o interesse geral nem interesse do consumidor e que se manifesta na ganância de homens que olham apenas para a sua posição pessoal e que só querem lucros. Para que isso não aconteça torna-se necessário estabelecer um poder central, isento desses malefícios estreitos e sórdidos que planifique uma acção na qual o progresso global seja possível. Essa autoridade mundial tomaria medidas para os sectores primordiais por elas considerados essenciais dando-lhe os capitais e a assistência que só ela, por ser isenta, entendia ser necessária.
Esta filosofia enferma de erros todos eles conhecidos e denunciados pelos economistas contemporâneos que tratam da economia do mercado. Transcrevemos alguns desses reparos que são verdadeiros por terem sido confirmados pela prática.
Os defeitos. O principal defeito da economia dirigida consiste em confiar a direcção da economia a teóricos sem responsabilidades reais. A satisfação do fanático do plano, conhecida de todos nós, manifestava-se apenas em planificar, não tinha qualquer outra responsabilidade. Outro defeito apontado e verdadeiro da economia centralizada consiste no facto de a sua genérica globalização anular o interesse pessoal. Acrescente-se a fraqueza da planificação que se manifesta na sua inevitável complexibilidade, lentidão e exigência de uma enorme administração; as pressões de natureza extra-económica: políticas, sentimentais, partidárias e os famigerados lobbies; e por último a enorme gravidade dos erros cometidos por uma única autoridade que toma decisões económicas.
Os fracassos. Os fracassos da economia centralizada são bem conhecidos de nós: os têxteis de Mocuba, as alfaias da Beira, os regadios do Limpopo. Mundialmente são conhecidos outros fracassos que fazem parte de quase todos os manuais que tratam de economia de mercado, nomeadamente a cultura dos tremoços no Tanganica, os altos fornos nas aldeias da China, o carvão na Europa, a reconstrução pelo Estado dos caminhos de ferro depois da segunda guerra mundial.
Um caso do nosso quotidiano. A escola pré-universitária e dormitórios do Xai-Xai foi posta a concurso internacional; são 10 Kg de burocracia em documentos escritos, o engodo de um adiantamento de 30%, a fantasia de um pavimento de betão asfáltico no Xai-Xai, a incongruência de uma facturação de 1 milhão para uma obra que possivelmente custa 4 milhões. Na verdade isto nem sequer lembra ao diabo, só o poder central do Banco Mundial em Nova Iorque o consegue fazer.
Apelo. Apostamos na democracia e na economia de mercado. Somos pela privatização e pela globalização. Mas democracia não é a decisão de uma minoria nem o mercado livre constitui um sistema ditado pelo poder central. Privatizar não é vender, globalizar não é amalgamar as regiões.
Democracia e mercado livre são formas de actuação completamente opostas ao que anteriormente enunciamos. Por ainda ser possível criticar faço um apelo a alguns talentos nacionais excepcionais e, também, sem desprimor, aos normais, para conjuntamente criticarem os desvios que presentemente se manifestam na sociedade em que vivemos.
Não podemos esquecer que o Homem perante a força dos factos e da verdade volta sempre à razão.
MEDIA FAX - 25.05.2007