A sede da organização não-governamental moçambicana Justiça Ambiental, em Maputo, foi palco no último domingo de um estranho assalto, com os intrusos a furtarem apenas o disco rígido do único computador existente no escritório.
De acordo com Gizela Zunguze, da Justiça Ambiental (JA), os assaltantes deixaram para trás o computador, monitores, impressoras, colunas de som e outro equipamento existente na sede da organização, tendo apenas retirado 16.000 meticais (453 euros) que se encontravam no cofre.
"Eles apenas levaram a informação (.) Parece-me uma acção típica de alguém que está apenas à procura de informação. O disco rígido roubado contém toda a informação sobre o nosso trabalho", disse Zunguze.
A Justiça Ambiental tem-se notabilizado pela defesa de posições controversas, nomeadamente alertando para os riscos ambientais da construção da mega-barragem de Mphanda Nkuwa, no rio Zambeze, que conta com financiamento chinês.
Recentemente, à margem do encontro anual do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) de Xangai, a organização não-governamental procurou dissuadir os bancos chineses de avançar com o financiamento da barragem, apelando a uma reapreciação integral do projecto, à luz das suas implicações ambientais.
"Os bancos chineses deviam financiar apenas os projectos que obedecem aos padrões ambientais internacionais e o financiamento da barragem de Mphanda Nkuwa devia ser suspenso até os custos, benefícios e prováveis alternativas do projecto serem devidamente esclarecidos", disse então Daniel Ribeiro, perito em assuntos hídricos da JA.
Os ambientalistas põem igualmente em causa a existência de um estudo de impacto ambiental para a barragem e lançam interrogações sobre a segurança do empreendimento, lembrando o abalo sísmico que no passado recente assolou o país e que a barragem foi projectada para uma zona sismicamente activa.
O Export-Import Bank of China (Eximbank, estatal) já aprovou o financiamento do projecto de construção da mega-barragem, avaliada em 1,5 mil milhões de euros e que terá uma capacidade de produção de electricidade de 1.350 megawatts (Cahora Bassa tem cerca de 2.075 megawatts).
O mesmo Eximbank deverá também financiar a construção da barragem de Moamba, no rio Incomati, cerca de 80 quilómetros a sul de Maputo, avaliada em 225,8 milhões de euros e destinada essencialmente a reforçar o abastecimento de água e electricidade à capital do país.
O financiamento da construção da represa no rio Incomati insere-se, de resto, num pacote de investimentos mais vasto que abrange a barragem de Mpanda Nkua, quilómetros a jusante de Cahora Bassa.
NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 24.05.2007