Originada pelo “deixandarismo” e “venda” de patentes
São vários os policias, entre guardas, sargentos e oficiais subalternos, que nos contactaram para denunciarem aquilo que consideraram “irregularidades” que se registam no seio da corporação em Nampula.
O número de descontentes ronda em algumas centenas, mas apenas 180 agentes identificaram-se como os mais prejudicados pelo sistema de “venda” de patentes, associado ao que classificaram de “falta de iniciativa” do respectivo comandante para acabar com a onda de criminalidade na província de Nampula.
Dentre os assuntos abordados, as nossas fontes apontaram os sistemáticos casos de assaltos, quer em residências, como na via pública, cujos números são, muitas vezes, omitidos por ordens do respectivo comandante provincial, Francisco Vontade.
Muitos dos crimes não constam dos relatórios diários que são remetidos ao gabinete do governador porque o comandante diz que isso mancha o trabalho da polícia. Referiram as nossas fontes, que, igualmente, falaram do sistema de “venda” de patentes na corporação.
Disseram que membros da PRM com menos de cinco anos de serviço são, misteriosamente, promovidos em detrimento dos seus colegas com mais de 10 ou 20 anos na carreira policial. Alguns agentes com melhor comportamento e uma formação académica aceitável continuam na escala de guardas e com poucas possibilidades de progressão.
Outra questão que leva policias de Nampula a promover uma “greve psicológica e silenciosa”, tem a ver com a forma como está a ser aplicado o dinheiro que lhes é descontado mensalmente para efeito de assistência social.
A medida de desconto de um por cento no salário a cada membro da PRM foi introduzida em 1998 pelo então comandante provincial da PRM em Nampula,
José Weng San, supostamente para atender às solicitações sociais dos próprios agentes. Mas, alguns anos depois, a iniciativa foi banida por ordem do Comando Geral, em virtude de, na sua óptica, tratar-se de uma ilegalidade.
Surpreendentemente, os mesmos dirigentes ordenaram que fossemos descontados, mas desta vez, o dinheiro passou a ser gerido a partir do Maputo. Quando o dinheiro passou ao controlo dos Serviços Sociais Centrais deixou de beneficiar aos legítimos contribuintes. Nós queremos que o dinheiro volte a ser gerido localmente. Disseram as fontes.
A alegada discriminação na atribuição das ajudas de custo aos agentes afectos às Forças de Protecção de Altas Individualidades (FOPAI) nas viagens aos distritos do governador da província e outros dirigentes, foi outra questão referenciada pelos nossos entrevistados.
As ajudas de custo são pagas apenas a um determinado grupo de indivíduos, dentre os quais o comandante da FOPAI, Mário João Mavie, o chefe de escolta, Sarantôa António Paulo, além de alguns motoristas polícias e ajudantes de campo, em detrimento daqueles que “passam a vida com AKM-47 nas mãos”.
Exigimos que se pague a todos ou, então, que não se pague a ninguém, porque esse tipo de discriminação é perigoso em termos de segurança. Desabafaram as nossas fontes, na condição de anonimato.
Outras fontes seguras disseram ao Wamphula que a província de Nampula foi contemplada com uma verba de 47 mil meticais por ocasião do 32º aniversário da policia, assinalado no passado dia 17 de Maio.
Entretanto, embora se destinasse às festividades, o dinheiro começou a ser distribuído apenas na semana passada pelas quatro Esquadras da cidade de Nampula e Comandos distritais da PRM, em valores considerados bastante irrisórios.
Po seu turno, declinando pronunciar-se sobre as questões levantadas, Francisco Vontade, comandante provincial da corporação, revelou que alguns destes agentes foram processados disciplinarmente e outros aguardam pela sua expulsão, indiciados do envolvimento em vários crimes.
Vontade afirmou que, apesar de haver necessidade de aumentar os efectivos nas fileiras policiais, alguns agentes deverão ser afastados da corporação, por má conduta e violação da ética profissional.
Vale a pena ficar com poucos elementos do que ter muitos agentes que não cumprem com as leis estabelecidas para o desempenho das suas funções. Observou o “boss” da policia em Nampula.
WAMPHULA FAX - 29.05.2007