- Autoridades culpam a agricultura e não o saque de madeira
Um total de 219 mil hectares de áreas florestas desaparecem anualmente do país.
O governo explica que a situação se deve à prática da agricultura itinerante e não à exploração desenfreada de madereira que tem sido denunciada por várias Organizações Não Governamentais como a causa do actual nível de desmatação do território nacional.
O inventário realizado pela Direcção Nacional de Terras e Florestas revelou que o país conta actualmente com um total de 54 800 000 hectares o que equivale dizer que cerca de 70 por cento do território nacional é coberto por diferentes formações vegetais, maioritariamente, por florestas com forte potencial de madeira de alta qualidade. Confrontando estes números com os do censo madeireiro de 1994, verifica-se que houve, nos últimos 14 anos uma redução de formações florestais em cerca de 8 por cento a uma média anual de 0.58 por cento. Em 1994, o país contava com pelo menos 62 milhões de hectares que correspondiam a uma cobertura de 78 por cento do território nacional.
Embora considere que os 0.58 por cento/ano de desmatação sejam preocupantes, as autoridades moçambicanas consideram que este é um processo que vai continuar a acontecer porque, segundo defendem, é reflexo do desenvolvimento. Mais, as autoridades moçambicanas são de opinião que se pode considerar a situação como estando controlada pois está abaixo dos níveis de desmatação global do continente africano, situados na casa dos 8.8 por cento.
"A questão que se coloca é: Como é que, de facto, podemos desenvolver agricultura sacrificando menos os recursos florestais. Significa que é necessário fazermos uma agricultura com tecnologias adequadas, ou seja, que as pessoas tenham direito a insumos como sementes melhoradas, fertilizantes, usando a mesma área para um período de tempo mais longo. Neste momento, a população faz o derrube de uma determinada floresta para a prática da agricultura por um período de um ano e meio a 2 anos, depois tem de mudar-se para outra área porque a anterior já está empobrecida" - explicou o Director Nacional de Terras e Florestas, Arlito Cuco.
Desmatação é impossível
O importante é um desenvolvimento que não coloque em perigo a existência desta família vegetal" - frisou.
Segundo o inventário do Ministério da Agricultura, a maior parte das formações florestais estão localizadas na província do Niassa, mas maior potencial de madeira como tal, a província da Zambézia, no centro de
Moçambique. Também é na província da Zambezia onde se verificam os maiores índices de exploração ilegal deste importante recurso natural de que o território nacional dispõe.
Questionado sobre a mais valia que vai trazer o estudo no que concerne à conservação das florestas, Arlito Cuco defendeu que os dados serão importantes para a planificação de acções de conservação e utilização dos recursos.
"A partir do momento em que sabemos o que temos, onde e quais as quantidades, é fácil direçcionarmos as acções de investimento, quer para a produção madeira, através de concessões florestais, assim como para o desenvolvimento de actividades de reflorestamento envolvendo o sector privado e as comunidades locais. É um instrumento extremamente útil para a tomada de decisões" - explicou Cuco.
O estudo custou ao Governo moçambicano cerca de 2.5 milhões de USD e refere ainda que o país está a explorar de forma sustentável os recursos vegetais, na medida em que, com o actual nível de cobertura vegetal, uma exploração sustentável (corte anual admissível) estaria na casa dos 500/600 mil metros cúbicos/ano, mas actualmente, o país está a explorar apenas 143 587 hectares.
(Fernando Mbanze) - MEDIA FAX - 21.06.2007