Razões para os aumentos nos preços do pão
De 370 mil toneladas necessárias só se produzem cerca de 10 mil
“Há necessidade de inverter a situação da produção do trigo através do aproveitamento das zonas com potencial agro climatérico incentivando os camponeses com tecnologias melhoradas com vista a praticarem uma agricultura comercial” - Mário Ubisse chefe de departamento de Culturas e Aviso Prévio na Direcção Nacional de serviços Agrários.
Está definitivamente esclarecido, na parte que lhe toca, pelo Ministério da Agricultura (MINAG), através da Direcção Nacional dos Serviços Agrários, que a crise no sector de panificação, que se caracteriza por constantes subidas no preço da farinha de trigo e consequentes agravamentos aos preços dos diversos tipos de pão, está longe de ser ultrapassada. É simples perceber-se porquê. Presentemente Moçambique não produz este cereal. Como tal tem de importar o que consome. E ou o país se conforma com os preços do mercado internacional e importa ao preço que estiver para continuarmos a comer pão, ou deixamos de comer pão, ou começamos a encarar a sério esta questão e começa-se a produzir trigo com profissionalismo no País. Condições naturais há, mas em entrevista exclusiva ao «Canal de Moçambique» o chefe do Departamento de Culturas e Aviso Prévio na Direcção Nacional dos Serviços Agrários do MINAG, Mário Ubisse, disse que até ao presente momento Moçambique importa acima de 370 mil toneladas de trigo para satisfazer as suas necessidades e só produz pouco menos do que 10 mil toneladas. Um enorme deficit como se pode concluir.
“Neste momento a produção do trigo é insignificante e é feita por pequenos agricultores no distrito de Tsangano, em Tete, falando-se em cerca de dez mil toneladas produzidas por campanha. São pequenos agricultores que desenvolvem esta cultura”, disse Mário Ubisse ao «Canal de Moçambique».
Segundo ele a fraca produção nacional deve-se à falta de incentivos. Por isso defende que há necessidade de se incentivar os agricultores através de novas tecnologias e insumos melhorados para se produzir para abastecer o mercado interno, sobretudo, mas também e mesmo até o mercado externo.
Instado a pronunciar-se sobre o abandono da prática da cultura do trigo tal como acontecia no tempo colonial nas regiões de Chokwé, em Gaza; em Nicoadala, na província da Zambézia; e em várias regiões do Vale do Zambeze, o que permitiu que naquele tempo Moçambique não passar por uma crise parecida com a actual, Ubisse preferiu fazer um historial daquilo que aconteceu depois da independência do país. Revelou que durante os primeiros anos Moçambique registou uma crise em quase todo o seu sistema agrário e depois seguiu-se a isso, novas guerras.
Como se sabe as guerras foram primeiro de motivação regional para se por termo aos regimes vigentes no Zimbabwe, África do Sul e Namíbia, e depois a guerra civil moçambicana que se prolongaria por 16 anos. Tudo isso contribuiu para a desestabilização do sector agrário.
Da crise não escapou a produção de trigo.
Num outro desenvolvimento, Ubisse começou por dizer que “o sistema de produção agrícola deste país depende na sua grande parte das condições climatéricas” e revelou que “temos cerca de 80 por cento dos camponeses que respondem, actualmente, por 90 por cento da actividade agrária do país”.
“Para ver que existe uma grande preocupação para se incentivar a produção agrária é só notar que em 1992/93, após terminar o conflito armado, o sector agrícola apenas produzia cerca de 20 por cento da quantidade de cereais que eram necessários para abastecer o país. O restante vinda da ajuda externa e donativos” diria Ubisse para defender que agora o quadro é diferente, ainda que se reconheça que continua a haver deficit de certo tipo de grãos como é o caso do trigo.
Dois milhões de toneladas de milho por campanha
O mesmo interlocutor disse ter havido nos últimos anos uma inversão da situação. Agora, segundo Mário Ubisse cerca de oitenta por cento da produção de cereais já é nacional com maior destaque para o milho que chega para o consumo e guardar-se excedentes.
“A produção de milho cifra-se em cerca de 70 por cento, seguindo-se o arroz, a mapira e o trigo em pequena escala”.
“E é só ainda notar que apesar de estarmos num bom ritmo nós ainda temos um défice de 20 por cento em cereais. Basicamente é o caso do arroz e do trigo que ainda temos que importar”, disse Ubisse. Revelaria, no entanto, que “existem esforços que estão a ser feitos no Ministério da Agricultura para se inverter a situação”.
“Estas acções não serão apenas com relação à produção do trigo mas também ao arroz, trabalho que será feito nas zonas que oferecem condições agro-climatéricas para tal”.
“Temos condições agro-climatéricas para reactivarmos a produção do trigo que tal como o milho também falta de mercado”, disse Mário Ubisse defendendo que há necessidade de se rever a situação criando-se condições para que o sector familiar passe a usar tecnologias melhoradas com vista poder praticar uma melhor agricultura familiar de melhor nível.
Ubisse entende que os camponeses do sector familiar devem ser transformados em pequenos agricultores e os pequenos privados em grandes empresários. “Só assim é que se pode avançar”, opina já a concluir a nossa conversa.
(Alexandre Luís) - CANAL DE MOÇAMBIQUE - 19.06.2007
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