A esquina do tempo
Por LUIS PATRAQUIM
Foi com imensa alegria que tomei conhecimento da excelente iniciativa criadora da moçambicana M Cel e da sua pegada pictórica na Ilha de Moçambique. Ou Omuhipiti para os mais vernáculos.
Devoto da iniciativa privada, a cores, acho que a ideia de pintar muros e frontarias de monumentos com o verde e amarelo da empresa só pode ser saudada como genial. É o perfeito golpe de marketing e de publicidade. E de tal magnitude que obriga este humilde cronista a assinalá-lo com ênfase. Do que vi, em imagens de blogue, quero dar notícia aos leitores da mais viva das emoções, tantas, que até me vieram as lágrimas aos olhos. Vertigem, deriva, funda emoção a cores, tudo em mim se conjugou ao contemplar o verde esperança daqueles muros, o amarelo nostálgico afagando o tempo parado de Omuhipiti.. Foi mesmo um momento de pura sinestesia. O antigo e insistente marulhar do Índico revolvia-se em mim metamorfoseado na infinita e subtil matiz de verdes de que o mistério das cores é capaz. Do amarelo, calo na alma um tremor de asas e o assobio do vento afagando o colmo das casas na ponta da Ilha. Onde espero que a M Cel não se tenha esquecido de apor a sua dádiva colorida ao barro das habitações mais pobres. Não quero acreditar em tamanha descriminação. Se o portão em arco trabalhado da antiga capitania é saudado pelos vivos tons da imagem de marca da M Cel não posso crer que o mesmo não tenha sido feito nas paredes derruídas dos bairros onde pulsa a energia da ilha e onde, como escreveu Alexandre Lobato, as mulheres ostentam um ar neo-realista.
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