Olívia Massango
No mundo da academia há quem diga que África começou mal, portanto que é um beco sem saída. Talvez seja verdade se a única forma de lutarmos por um futuro melhor for a do discurso de lamentações. Isto porque é comum sempre que se fala da triste realidade deste belo continente, de Moçambique em particular, se apegar ao colonialismo, aos 16 anos de guerra civil às demais situações por que passou para justificar o presente.
O país herdou do passado colonial uma estrutura económica frágil e um índice de pobreza bastante elevado. Para iniciar com os projectos de desenvolvimento, a única alternativa foi o endividamento externo. Paralelamente, a fonte tradicional de divisas do país começou a cair devido ao encerramento da fronteira com a então Rodésia do Sul e à política de redução e restrição de mão-de-obra mineira nacional na África do Sul.
Já na década 80, vários factores como a guerra civil, secas, cheias, deterioração dos termos de troca, entre outros, inviabilizaram o sucesso do Plano Prospectivo Indicativo, um projecto de desenvolvimento. Face a isto, para garantir a sua sobrevivência, o país teve que contrair mais dívidas no exterior, culminando com a sua adesão ao FMI e BM, em Setembro de 1984.
Foi uma decisão que se explica pelo contexto, mas que, no entanto, elevou ainda mais a dívida do país, que mais tarde ficou insustentável. Depois, novas políticas foram desenhadas para desenvolver o país, casos do PRE/PRES e PARPA I, desta vez não por moçambicanos, mas sim por estrangeiros que nem sequer conheciam a realidade do país, e mais uma vez o país não avançou. De referir que neste período o número de indivíduos com formação superior ainda era significante, comparado ao de hoje, mas já estávamos a bom ritmo.
É bem verdade que tudo isto faz parte do nosso passado histórico e que não nos podemos alhear a ele. Mas o mal começou quando o acto de pedir foi aos poucos se transformando em vício e esquecemo-nos da fórmula de luta que usámos para expulsar o colono; esquecemos que o futuro melhor se prepara com trabalho; esquecemos que a ajuda não é uma herança que não nos esforçamos nem pagamos para ter; esquecemos de analisar os condicionalismos que vinham rabiscados nas sobras da “ajuda” que recebíamos; esquecemos de sonhar por um Moçambique desenvolvido para os nossos filhos e olhámos apenas para o nosso próprio umbigo, num gesto claro de egoísmo: quem nascer amanhã que faça o seu próprio futuro.
Hoje, temos um país com um número considerável de indivíduos formados, ainda assim queremos que sejam os outros a traçar o nosso próprio destino.
Assim vivemos nós neste calvário e remamos contra a maré, porque os que nos representam ainda são aqueles que pensam só no presente. Amealham riqueza e revestem-se de bens de ostentação sem pelos menos investirem para, de alguma forma, fazerem com que outras pessoas possam ter por onde começar.
E assim a pobreza vai se reproduzindo e ó país fica cada vez mais com as saídas limitadas. Moçambicanos, pedir não é per si um acto mau, porque o homem em sociedade vive em complementaridade. Mau é perpetuarmos voluntariamente a condição de pedintes.
O PAÍS - 21.06.2007