O maior partido da oposição sul-africana, a Aliança Democrática (AD), exigiu terça-feira que o governo crie campos de refugiados para acolher milhares de cidadãos do Zimbabué que diariamente atravessam a fronteira para a África do Sul.
Dois dirigentes da AD que terminaram hoje um périplo pela zona fronteiriça entre a África do Sul e o Zimbabué afirmam ter apurado que por uma só propriedade agrícola que faz fronteira entre os dois países passam "a salto" todos os dias para a África do Sul um milhar de zimbabueanos. Joe Seremane, o presidente nacional do partido, e Mark Lowe, porta-voz para os assuntos internos, declararam que a situação na área de Beit Bridge, província do Limpopo, assume contornos de uma tragédia humana e que o governo do presidente Thabo Mbeki continua "a olhar para o outro lado".
Pelos números fornecidos pelas autoridades sul-africanas e pelos observadores no terreno contactados pela missão de observação, a AD calcula que passem ilegalmente para a África do Sul diariamente entre sete e 10 mil zimbabueanos que não têm quaisquer meios de subsistência no seu país. Os problemas sociais criados pelos refugiados, transformados na sua maioria em residentes permanentes, vão do aumento da criminalidade à extrema pressão sobre os sistemas de saúde, educação, desemprego e outros. A AD afirma que escreveu uma carta à Comissão Sul-Africana dos Direitos Humanos na qual pede uma análise atenta da situação e acções concretas no sentido de minorar as extremas dificuldades que os zimbabueanos enfrentam quando tentam iniciar uma nova vida na África do Sul.
Uma "guerra" de acusações e contra-acusações tem vindo a intensificar-se nas últimas semanas entre a AD e o governo do presidente Mbeki, com a oposição a exigir acções firmes do executivo no apoio aos refugiados e no controlo dos efeitos que eles têm na sociedade e na economia sul-africanas.
Por sua vez, o governo insiste que os zimbabueanos que entram, legal ou ilegalmente, na África do Sul e não são deportados devem ser integrados nas comunidades e não colocados em campos de refugiados. Admitindo não saber os números exactos de zimbabueanos que se encontram na África do Sul, o governo vai acusando a AD de fazer "politiquice" à custa da situação no Zimbabué. A polícia sul-africana afirma ter detido e deportado seis mil zimbabueanos nas duas primeiras semanas de Julho. As autoridades em Beit Bridge recusam-se a divulgar números actualizados, sugerindo à comunicação social que contacte o comando nacional, em Pretória. Confrontado recentemente com o número de zimbabueanos que estão refugiados na África do Sul, o ministro-adjunto dos Negócios Estrangeiros, Aziz Pahad, referiu que "o número mais citado é três milhões", mas que, em sua opinião, "ele não tem qualquer base científica, podendo ser verdadeiro ou não". Mark Lowe exortou terça-feira a ministra do Interior , Nosiviwe Mapisa-Nqakula, a visitar a região fronteiriça para ter uma ideia exacta das dimensões do problema. "Talvez depois da visita a ministra venha a respeitar os seus deveres constitucionais de aplicar a Lei dos Refugiados aos zimbabueanos e estabeleça um local seguro para os refugiados desesperados que entram no nosso país", concluiu Mark Lowe.
LUSA - 25.07.2007