PREFÁCIO
1. Dia 27 de Abril de 2007. À partida de Maputo, já na pista do aeroporto, percorri, em segundos, o horizonte, da gare aos aviões estacionados, e lembrei-me de muitas outras partidas, nos anos 60, 70, 80 e 90, as primeiras das quais ainda de pequeno Friendship, para ir apanhar o Boeing à Beira.
Recordei, de forma especial, o longo adeus de meus Pais, em Janeiro de 1970, fotografia inesquecível que escolhi para capa da Fotobiografia que lhes dediquei, ainda em sua vida.
2. Dito por outras palavras, se é verdade que, quanto a Africa, não há meios sentimentos - ou se adora ou se odeia, e eu adoro -, quanto a Moçambique tenho dificuldade em perceber quem consiga não adorar a terra e a gente. Há muitas décadas, em Império Colonial, como hoje, num Estado independente em afirmação.
3. Por isso, não hesitei um segundo perante o convite de Eurico Carlos Esteves Lage Cardoso e Manuel Pedro Dias para escrevinhar duas linhas solidárias com o seu intento de contar Moçambique tal como foi até 1975.
4. É um livro do passado? É.
É uma simplificação de séculos de História? É.
É uma visão do lado do colonizador? É.
É uma divulgação mais do que um achamento de novos factos ou protagonistas? É.
Mas assume-o, sem complexos nem disfarces. E falar de Moçambique também comporta esta perspectiva específica. Uma perspectiva de quem quer recordar o Moçambique em que viveu, e que terminou, a seus olhos, no dia da separação, em 1975.
5. Claro que eu ouso ir mais longe. E pedir aos autores desta evocação feita com saudade que regressem à terra, que também continua a ser sua, e descubram como o essencial do lugar e sobretudo das pessoas está lá, para além do caminho ora seguido como novo Estado em busca de democracia, desenvolvimento e justiça.
Talvez se sintam, então, tentados a escrever novo volume. Sobre o passado mais recente, o presente e o futuro próximo.
Moçambique os moçambicanos merecem-no e eu ofereço-me, desde já, para ajudar nesse propósito.
6. Mas, desta feita, do que se trata é de contar o que foi até 1975.
Nessa terra de magia, a que ficamos ligados, estejamos no Sul cosmopolita, em Tete promissor, em Cabo Delgado ou em Niassa distantes e atraentes, em Inhambane acolhedor, em Manica ou Sofala, pontes de unidade, na Ilha de Moçambique, pedaço de História de todo um mundo.
Há na doçura da Natureza e das mulheres e homens um sentido de vida que é único e nos prende para sempre.
Por mim, o feitiço dura há quatro décadas e vai acompanhar-me até à morte.
Quem sabe se um dia, liberto de tarefas escolares, de apelos comunicacionais e até de compromissos familiares ou cívicos mais instantes, não escolherei fazer de Moçambique a minha terra de destino...
Só Deus o sabe. E, em Moçambique, Deus tem um certo dever especial de guarda.
Para com a terra, que procura fazer-se, e para com a gente, com tanto problema pessoal e comunitário, mas, do mesmo modo, com tamanha capacidade de sofrer, de acreditar e de esperar.
Marcelo Rebelo de Sousa
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