Golpe de Estado se Mugabe perder eleições de 2008
O brigadeiro-general David Sigauke, do exército do Zimbabwe, ameaçou que a instituição militar derrubará pelas armas qualquer futuro governo que não seja liderado pelo presidente Robert Mugabe ou pelo seu partido, a Zanu-PF, noticiou ontem a Agência Lusa, de Portugal, país que actualmente preside à União Europeia e prepara para Dezembro em Lisboa uma cimeira Europa-África.
Embora ainda vigore contra Robert Mugabe uma deliberação da UE que proíbe a sua entrada em espaço europeu, o actual primeiro-ministro português e secretário-geral do partido socialista continua a defender a presença do presidente zimbabweano em Lisboa. Dessa forma José Sócrates contraria o seu próprio ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, que já disse que prefere ter na capital portuguesa a dialogar com os demais presidentes africanos o primeiro-ministro Gordon Brown a Robert Mugabe.
Discursando no fim-de-semana durante uma cerimónia de graduação de novos recrutas nos arredores da capital do país, Harare, o oficial superior das Forças Armadas zimbabweanas exortou os cidadãos do seu país a “exercer os seus direitos eleitorais com sensatez nas eleições de 2008”, recordando que o Zimbabwe “não voltará a ser uma colónia”.
Segundo o jornal independente «ZimOnline», o brigadeiro-general Sigauke afirmou aos novos graduados que a instituição militar tem a obrigação de defender a herança histórica e nacional do país bem como a soberania nacional. “Como soldados temos o privilégio de sermos capazes de defender estes direitos em duas frentes: a primeira através da urna de votos e a segunda através do cano das espingardas se as coisas forem de mal a pior”, disse o oficial citado pelo «ZimOnline».
A «Lusa» recorda que já em 2002, em vésperas de mais um controverso acto eleitoral ganho pela Zanu-PF de Robert Mugabe, o então comandante-em-chefe do exército (agora reformado), general Vitalis Zvinavashe, ameaçara numa conferência de Imprensa que o exército nunca seria leal a um presidente que não tivesse participado na luta pela independência.
Segundo analistas locais, ambas as ameaças são dirigidas directamente ao Movimento para a Mudança Democrática (MDC, a maior força da oposição), que é liderado por um antigo líder sindical, Morgan Tsvangirai.
Tsvangirai foi derrotado em todos os actos eleitorais desde 2000, embora tenha tido o apoio de inúmeras organizações internacionais e grupos de observadores na denúncia de graves irregularidades executadas pelo regime na preparação e execução das eleições bem como na contagem dos votos desde então, acrescenta a Lusa.
Mugabe, que tem sistematicamente acusado a oposição de ser “um fantoche do Ocidente”, em particular da Grã-Bretanha, tem contado desde a sua ascensão ao poder, em 1980, com a lealdade cega de certas hierarquias do aparelho militar.
Entre muitas recompensas dadas aos oficiais superiores dos três ramos das forças armadas, Robert Mugabe distribuiu pelos seus mais fiéis defensores milhares de hectares das terras que o seu governo expropriou aos agricultores brancos, situação que contribuiu grandemente para o colapso da economia do seu país, sobretudo por terem deixado de ser produtivas.
Militares no activo ou na reforma têm sido nomeados em anos recentes para cargos governamentais, para as administrações de empresas públicas e até mesmo para os órgãos que gerem as eleições no país. Por exemplo, o presidente da Comissão Eleitoral, George Chiweshe, é um antigo juíz e general do exército, que foi nomeado para o Supremo em 2001 depois de Mugabe ter levado a cabo uma purga de todos os juízes que não pertenciam ao aparelho do seu partido.
Terça-feira os militares voltaram a ocupar pela força das armas mais uma propriedade agrícola de um zimbabueano branco, apesar de na véspera o vice-presidente Joseph Msika ter anunciado que mais nenhuma exploração agrícola seria expropriada pelo seu governo.
Ainda segundo o "ZimOnline", um grupo de 15 soldados, liderado pelo brigadeiro-general Dube, invadiu a fazenda Grand Parade, de James Sidolph, situada no distrito de Karoi, no Noroeste do país, forçando o proprietário a fugir para a capital, onde contactou funcionários governamentais sobre o sucedido.
Apenas 600 dos cerca de quatro mil proprietários agrícolas brancos que operavam no país em 2000 estão ainda na posse das suas terras.
Um trabalhador da quinta invadida pelos militares disse ao jornal “ZimOnline” que os soldados lhes ordenaram que parassem com a irrigação dos campos de tabaco, passando de imediato a dividir entre si a área ocupada.
O Zimbabwe, que até 2000 era exportador de tabaco, milho e outras colheitas, era até então considerado um exemplo de uma economia de sucesso no continente africano. Hoje, são mais de quatro milhões os seus cidadãos que precisam se ajuda alimentar de emergência, enquanto outros quatro milhões estão refugiados em países vizinhos.
A taxa de desemprego nesta nação de 11 milhões de habitantes situa-se nos 80 por cento e a inflação é a mais alta do mundo, rondando os sete mil por cento ao ano.
(Redacção / LUSA / “ZimOnline) - 27.09.2007