Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Desde a sua independência em 1975, Moçambique tem sido pasto para as mais diversas ideologias ou orientação política.
Neste tempo todo, tem-se assistido ao uso das ideias mais díspares, todas alegadamente fundadas no povo e com vista ao seu desenvolvimento e emancipação.
Os cordelinhos de toda a acção governativa têm estado invariavelmente nas mãos das mesmas pessoas. O que tem mudado é o verbo mas não a essência de como vivem os cidadãos. Perante as crises que não largam o país procuram-se as mais diversas justificações. Se antes eram os 500 anos de colonialismo, então hoje a canção cansou os ouvintes e começou-se a tocar a música dos 16 anos de guerra, para uns civil e para outros de desestabilização.
Esta diferença de interpretação, parecendo que não, é um dos factores causadores de toda uma maneira de estar e sentir o país.
Há todo um conjunto de factores que combinados travam o desenvolvimento nacional.
Se dissermos que embora assinado o Acordo de Paz de Roma, os ex-beligerantes não se vêem nem se sentem reconciliados não estaremos longe da verdade. Não houve da sua parte coragem, vontade e força para compreenderem que são irmãos de um mesmo país, necessários e fundamentais para que tal país ande para a frente. A não reconciliação efectiva, os problemas que por vezes transbordam para o público ao nível das Forças Armadas, como a questão do Questionário Confidencial, o ressurgimento de um discurso característico dos dias do Socialismo, proferido por altos representantes do partido no poder na Academia da Polícia, a falta de respeito básico pelo preceituado nas normas e regulamentos sobre o uso de bens do Estado e erário publico pelos partidos, a impunidade de que gozam determinados transgressores, o vazio em força legal conferido a instituições criadas para combater a corrupção, a apropriação indevida das datas comemorativas nacionais por um partido, a partidarização aberta e camuflada de órgãos eleitorais, a inexistência de sentido e cultura nacional por parte dos detentores dos cargos públicos, tudo leva a crer que estamos perante problemas cuja grandeza e importância não se pode continuar a ignorar.
O país conseguiu formalizar muitos aspectos e situações características de regimes democráticos. Deu alguns passos para a frente. Só que é pouco. Há algo que continua amarrando o funcionamento institucional. Há toda uma carga cultural e política que impede que as pessoas chamem as coisas pelos próprios nomes. Mesmo de quadrantes donde se espera uma postura diferente isso não acontece. Muitos dos jornalistas principalmente ao serviço de órgãos de comunicação pública vem a público com distorções da verdade quando não pintando autênticas mentiras de verdade. Sabem que algo está seriamente mal feito e estruturado ao nível de órgãos tão importantes como a CNE e o STAE mas coíbem-se de informar o público.
Assim cai-se constantemente numa situação em que se vê figuras públicas de quem se espera correcção, imparcialidade e verdade, enveredando pela mentira em consciência. Quando assim acontece é perigoso e grave para a Nação. Sobretudo se tudo isso, mesmo conhecido pelos outros poderes democráticos é tratado como coisa sem importância e consequência.
Infelizmente estamos vivendo num país em que as referências éticas e morais se encontram diluídas. Temos o que quer passar por uma elite mas disso só tem o nome e não o conteúdo. As diferentes lideranças partidárias, em virtude do comportamento promíscuo que exibem, não conseguem oferecer exemplos emuláveis. De toda a sua acção nos domínios político, governativo e cultural pouco aponta para que tais elites estejam imbuídas do interesse nacional.
Assiste-se a uma mercantilização da política e ao uso da mesma como instrumento para saldar dívidas de toda a natureza. Essa parece que é a especialidade de parte considerável dos políticos que temos. A obediência, o voto, o apoio, a cobertura são transformados em favores que se pagam por via de toda uma série de cargos governativos, ingresso em sociedades empresariais e ascensão na carreira política. Este é o estágio e tipo de actuação das elites nacionais que importa não esconder e afirmar, como habitualmente, que não constitui verdade.
A democracia, a alternância no poder, faz-se por via dos partidos políticos. Mas quando estes se mostram incapazes de liderar ou suas lideranças não conseguem comportar-se como elite política nacional de referência, o povo deve ir em busca daqueles que no meio de toda a turbulência e indefinições são capazes de servir com tal referência.
Essas pessoas existem no seio dos partidos e fora deles. É possível fazer muito mais por este país dentro dos canais partidários formais e mesmo fora deles. Esse tabu de que nada pode acontecer senão feito ou por iniciativa dos governantes deve ser energicamente combatido porque atrofia a iniciativa dos cidadãos.
Sem tirar os partidos da berlinda pois estes são a manifestação intrínseca de toda a realidade, há que inventar uma elite nacional que funcione como o guia necessário para as acções pertinentes e da maneira de ser-se moçambicano. Afinal nada diz que só dos partidos é que provem o saber fazer.
Sem embarcar numa cruzada purista, há que trabalhar-se para a dinamização da vida nacional nas suas diferentes vertentes. O purismo conduz ao totalitarismo cujas consequências nefastas já este povo conhece.
Pretende-se é envolvimento, participação e os cidadãos vencerem o medo de assumirem o papel que lhes cabe e pertence.
Os exemplos a seguir embora poucos ou quase invisíveis existem.
À condição de pobreza material não se deve oportunidade de esta se apoderar também das mentes embrutecendo-as.
Onde a concretização de programas não acontece, as respostas devem ser encontradas não ao nível do know-how dos executores ou decisores mas da cultura e mentalidade dos mesmos. É aqui onde a elite nacional que deveria fazer a diferença não cumpre com o que dela se espera.
Mentalidades amordaçadas por servilismos pueris são o caminho seguro e certo para a destruição de uma nação.
(Noé Nhantumbo) - 27.09.2007