Atracou terça-feira última no porto de Durban o Forrest Sherman (DDG98), torpedeiro da Marinha de Guerra dos Estados, que integra o recentemente criado Grupo de Trabalho do Sudeste Africano (CTG 60.5), afecto às Forças Navais Americanas para as regiões de Europa e África. O Forrest Sherman é a segunda unidade da marinha de guerra norte-americana a escalar portos sul-africanos em menos de um mês, na esteira da posição ambígua adoptada pelo governo da África do Sul de que os países membros da SADC deviam opor-se à presença de forças militares dos Estados Unidos na nossa região.
As recentes manobras navais conjuntas África do Sul-NATO realizadas ao largo do Cabo da Boa Esperança, que contaram com a participação do cruzador americano USS Normandy, e a viagem de reconhecimento que o Forrest Sherman está a efectuar a diversos pontos do Canal de Moçambique e outras regiões da costa oriental africana, apontam para a iminência da criação de feitorias norte-americanas nas zonas ribeirinhas do Índico e Atlântico no âmbito do chamado AFRICOM. Não obstante as reticências do Comité de Defesa e Segurança Interestadual da SADC, que, num encontro realizado recentemente em Dar es Salaam, decidira que “os países irmãos da região não deviam concordar em albergar as forças do AFRICOM”, são claros indícios de que a SADC virá a ser transformada em posto de comando avançado dos Estados Unidos. O AFRICOM já tem asseguradas facilidades navais no porto queniano de Mombaça.
Antes de Durban, o torpedeiro Forrest Sherman, que está equipado com mísseis teleguiados, já havia escalado Djibouti, Mombaça, Dar es Salaam, Moroni, e Maputo. O Forrest Sherman aportou em Dar es Salaam a 12 de Setembro, tendo o chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa da Tanzânia (TPDF), Tenente General D. A. Mwamunyange, expressado regozijo pela presença do torpedeiro americano em território tanzaniano. Dando as boas vindas ao comandante do Forrest Sherman, Mwamunyange afirmou que “o Mundo é uma aldeia global e todos nós necessitamos de operar de forma mais estreita,” acrescentando que era “no interesse comum de ambos confrontar em conjunto as ameaças à segurança marítima.” Em resposta, o comandante do CTG 60.5, Nicholas Holman, deixou transparecer a sua convicção de que os Estados soberanos da África Austral e Oriental desconheciam o que se passava nas suas águas territoriais ao afirmar que era objectivo daquele Grupo de Trabalho “ajudar as marinhas de guerras e as guardas costeiras do Sudeste Africano a compreender o que havia nas respectivas águas.” Holman adiantou que “parcerias marítimas fortes eram vitais para a segurança de uma região e para a sua estabilidade e desenvolvimento económico.”
Em Moroni, porto que o Forrest Sherman escalou por duas vezes no decurso da presente missão de reconhecimento em antecipação do estabelecimento do AFRICOM, Nicholas Holman foi citado como tendo dito que “ansiava pela formação de parcerias com as Comores e outros países do Sudeste Africano” para combater o que designou de “ameaças à segurança marítima, mormente a pirataria, pesca ilegal e contrabando.” Dado que este tipo de operações é levado a cabo por lanchas e vedetas por serem dotadas de maior mobilidade e serem mais velozes, o que não é o caso de navios torpedeiros, conclui-se que Holman tinha em mente uma presença mais visível de unidades da Marinha de Guerra dos Estados Unidos nesta zona do continente africano.
Depois de fazer escala em Maputo, Forrest Sherman dirigiu-se para Durban. Ontem, o torpedeiro integrado no Grupo de Trabalho CTG 60.5, conjuntamente com a fragata SAS AMATOLA da Marinha de Guerra Sul-Africana, deixou aquele porto para tomar parte em manobras navais que contam ainda com a presença de um submarino sul-africano e de aviões de reconhecimento PR Orion e C-47, respectivamente das forças aéreas dos Estados Unidos e da África do Sul.
O CTG 60.5 é uma cópia de um outro Grupo de Trabalho da Marinha de Guerra Americana, o 60.3, estabelecido há dois anos e que tem vindo a operar no Golfo da Guiné, região da África Ocidental rica em petróleo e que a médio prazo irá substituir os abastecimentos petrolíferos que os Estados Unidos presentemente importam do Médio Oriente. Para além da Nigéria e Angola, que são os maiores produtores de petróleo dessa zona, o Gabão, a Guiné Equatorial e São Tome é Príncipe são outros países cujos recursos petrolíferos estão a ser explorados por empresas norte-americanas.
Está programada uma pausa para descanso e actividades de recreio da tripulação do Forrest Sherman enquanto permanecer em território sul-africano. Para além de visitas a museus e instalações portuárias, o interregno da missão de reconhecimento será preenchido por uma romaria ao local onde a 25 de Dezembro de 1498 o pioneiro das viagens imperiais na nossa zona, Vasco da Gama, ergueu um marco das cinco quinas, vindo essa data a dar o nome de Natal à província de cuja capital é o já referido porto de Durban.
(Redacção/ Ports & Ships Newsletter) - CANAL DE MOÇAMBIQUE - 27.09.2007