Eles pensam que nós estamos muito atrasados, então não faz sentido receber um camião daqueles, os camiões que nós temos são mais modernos, são os mesmos que estão a ser usados em quase toda parte do Mundo, incluindo na própria Europa
O Presidente do Conselho Municipal da Beira, Daviz Simango, disse esta semana ao nosso jornal que a edilidade vai prescindir da oferta da Câmara do Porto (Portugal), e que dentro em breve poderá transmitir essa decisão ao seu homólogo Portuense, Rui Rio, do Partido Social Democrático (PSD).
Refira-se que a Câmara do Porto aprovou recentemente a oferta à sua congénere da Beira, Moçambique, de um camião de recolha de lixo com 25 anos de actividade.
O executivo camarário do Porto enquadra a oferta no protocolo de geminação entre aquela autarquia portuguesa e da Beira, estabelecido em 1989, e na bolsa de cooperação aprovada em 2005 para a "promoção de iniciativas específicas na área da ajuda pública ao desenvolvimento e da Lusofonia".
Os serviços da Câmara do Porto justificaram a dispensa do camião, um Mercedes 1613, com o facto de "não possuir valor comercial", apresentar um "estado de conservação que não confere a sua utilização na recolha de lixo pela cidade" e de o desempenho do motor ser "desajustado para vencer as solicitações que o tipo de recolha requer".
Como se não bastasse, o camião apresenta volante do lado esquerdo e nada constava sobre eventuais trabalhos de mudança do volante do camião da esquerda para a direita, respeitando a localização mais adequada às regras de trânsito vigentes em Moçambique.
A oferta da Câmara do Porto à sua congénere da Beira inclui 150 casacos de fatos de trabalho, três computadores, livros e equipamento escolar.
Sobre a oferta dos 150 casacos de fatos de trabalho, sabe-se que a Câmara Municipal do Porto teria justificado por se apresentarem desajustados relativamente aos usados pelos colaboradores das oficinas, não tendo também qualquer valor comercial.
Os três computadores, todos Pentium-III, sistema operativo Windows 2000, leitor de CD e oito gigabites de memória em disco, seriam acompanhados de uma impressora, um sofá e quatro ficheiros metálicos.
A Câmara do Porto pretende também oferecer livros, em número não especificado, para a criação na Beira da "Sala de Leitura Cidade do Porto".
A oferta incluia ainda diverso equipamento escolar, nomeadamente quatro mesas de escola, oito cadeiras, nove bancos, um quadro e um armário.
Sobre esses bens, o Presidente do Conselho Municipal da Beira não se pronunciou.
Entretanto, quanto ao camião, o Presidente do Conselho Municipal da Beira, Daviz Simango, disse que não é por sermos subdesenvolvidos que temos de aceitar toda oferta, como por exemplo este meio que se encontra desajustado à nova conjuntura.
“Eles pensam que nós estamos muito atrasados, então não faz sentido receber um camião daqueles, os camiões que nós temos são mais modernos, são os mesmos que estão a ser usados em quase toda parte do
Mundo, incluindo na própria Europa” – reagiu Daviz Simango à oferta da Câmara Municipa do Porto.
Alguns países da Europa tem sido acusados por tentarem transformar a África num local onde possam depositar o seu lixo.
Daviz Simango falou ao nosso jornal a margem da cerimónia de assinatura do acordo de gemelagem com a Câmara Municipal de Alcobaça, também de Portugal. Com Portugal, a Cidade da Beira possui agora seis acordos do género, nomeadamente com o Porto, Espinho, Coimbra, Arganil, Seycheles e Alcobaça.
Questionado sobre os ganhos que o Município tira desses acordos, Daviz Simango explicou que é mais uma questão de amizade e troca de experiência, além de bolsas sobretudo nas áreas em que eles estão mais
avançados, como por exemplo recolha de resíduos sólidos, saneamento e colecta de receitas municipais.
O Presidente da Câmara Municipal de Alcobaça, José Gonçalves Sapinho, do Partido Social (PS) elogiou
bastante o seu homolgo beirense, tendo criticado algum sector português que pretende estabelecer relações com Moçambique para promover o neocolonalismo.
Sapinho desejou à Daviz Simango maior coragem e que nunca deve perder o património que herdou, que procure sempre materializar as suas ambições, incluindo políticas.
O AUTARCA - 26.10.2007