MARCO DO CORREIO
Por Machado da Graça
Meu bom Enoque
Espero que tu e a tua família estejam bem de saúde. Eu e a minha estamos, felizmente, bem.
E é precisamente sobre a família que te queria falar hoje.
Não sei se reparaste num aspecto importante na recente criação de dois novos ministérios: o reforço dos laços familiares no Conselho de Ministros.
Até aqui já tínhamos o caso dos diálogos entre o Presidente da República e o Ministro da Defesa, que eram deste tipo:
Presidente – Diga-nos lá, Cunhado, como vai o processo de transferência dos paióis?
Tobias Dai – Vai bem, Cunhado. Já não morre ninguém há alguns dias...
Agora as reuniões passaram a ser enriquecidas com outros diálogos familiares:
1ª. Ministra – E a mana Vitória o que nos diz sobre os funcionários do Estado?
Vit. Diogo – Não se preocupe, mana Luísa, que está tudo a correr bem.
Enfim, cada vez o Poder no nosso país é mais uma questão familiar. Já o falecido Negrão me dizia que o país estava nas mãos de umas poucas famílias.
Agora, cada vez mais, isso se pode ver mesmo ao nível dos órgãos de soberania.
Só é de admirar que ainda haja ministros que não sejam primos, tios, maridos ou esposas uns dos outros. Esperemos que, gradualmente, essa falha venha a ser corrigida para que, em breve, não haja gente de fora da mesma família a governar o país.
Se até agora o poder político, entre nós, tem estado sempre nas mãos da mesma família política; se, até agora, o cargo de Presidente tem estado sempre nas mãos da mesma família étnica, é normal que se estejam a fazer esforços no sentido de que tudo isso se vá fundindo cada vez mais numa mesma família de sangue.
Eu creio que os membros do nosso Conselho de Ministros deveriam organizar piqueniques, bailes e tardes dançantes em que só poderiam entrar os seus filhos e filhas para tentar estimular o casamento entre eles de forma a ir reforçando, cada vez mais, a Grande Família.
Quando, nas reuniões do governo, já só se ouvir as pessoas a tratarem-se por Primo Fulano, minha querida Sogra, tio Cicrano e por aí adiante, teremos atingido um ponto muito alto de unidade familiar, reflexo, é claro, de uma outra unidade a nível nacional.
E as vantagens desse tipo de situação são enormes: Em primeiro lugar deixa de existir o problema do nepotismo. Sendo todos os dirigentes da mesma família não se pode acusar ninguém de ter favorecido um seu familiar. Só isso já diminui imenso algumas críticas que hoje ainda se fazem a alguns dirigentes por darem emprego a filhos ou primos.
Depois há a vantagem de os assuntos do Estado não serem tratados apenas nas chatas reuniões nas salas e nos gabinetes. Passam a poder ser tratados também em casamentos, baptizados e festas de aniversário dentro da Família. E esse trabalho fora de horas é uma mais-valia que só vai enriquecer a todos nós.
Como esta concentração do poder político na mesma família acaba por transbordar, naturalmente, para a área do poder económico, o avançar do processo vai evitar, gradualmente, os choques e competição desenfreada entre empresas, que é sempre tão debilitante.
O mesmo se passa ao nível da regulamentação do trabalho. Chegaremos ao ideal quando um jovem sindicalista, secretário-geral da OTM, for genro do Presidente do Conselho de Administração da maior empresa do país e, simultaneamente, ministro do Trabalho no governo, é claro. Vê só o que se poderia poupar em vez das intermináveis reuniões da Comissão Consultiva do Trabalho.
Enfim, penso que estamos no bom caminho e que isso só nos pode levar a um reforço, cada vez maior, dos valore$ familiare$.
E isso é muito bom, não é Enoque?
Um abraço para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) - 25.10.2007