Processo autónomo deverá continuar
— opinam juristas ouvidos pelo SAVANA
R. Senda e A. Sengo
Na madrugada de segunda-feira, calou-se de vez a voz de Nyimpine Chissano, o filho mais velho do antigo Presidente da República, Joaquim Chissano.
As causas da morte não foram oficialmente tornadas públicas, e a família tratou das exéquias fúnebres na maior discricionariedade, tendo chegado mesmo a impedir que a imprensa estivesse presente na missa de corpo presente, realizada na tarde de quarta-feira na Igreja Anglicana em Maputo.
A morte de Nyimpine suscitou algumas observações quanto ao destino a ser dado ao chamado processo autónomo, aberto em 2002, durante o julgamento dos seis indivíduos já condenados pelo seu envolvimento na morte de Carlos Cardoso.
Nyimpine chegou a ser chamado pelo tribunal como declarante, mas o que poderá ter tido maior peso para a abertura do referido processo foram as acusações feitas por dois dos condenados, durante o julgamento, apontando-o como um dos autores morais do crime.
Juristas ouvidos pelo SAVANA insistem que o processo autónomo irá prosseguir, tendo em conta que no mesmo encontram-se outros arguidos que deverão responder em juízo.
Mas outros consideram que o maior obstáculo que o processo autónomo sempre enfrentou foi a ausência de provas materiais que fossem para além de meras acusações orais. Consideram, por isso, a possibilidade de o juiz decidir extinguir o processo por falta de matéria para a sua continuação.
Estes analistas apontam para a pouca fiabilidade que poderá ser registada num julgamento múltiplo e em que um dos acusados está incapacitado, por morte, de se defender.
O processo autónomo, com o número 148/2002, foi aberto em Setembro de 2002 sob ordens do juiz Augusto Paulino, que julgou o “caso Carlos Cardoso”.
A ordem do juiz Paulino, agora procurador-geral da República, foi na sequência das declarações de um recluso de nome Jerry Opa Manganhela, durante a instrução contraditória do processo Carlos Cardoso. Este revelara, na altura, que terá ouvido conversas de Nini Satar e Anibalzinho, na cadeia, em que estes dois faziam alusão ao Nyimpine como tendo sido os mandantes do assassinato de Carlos Cardoso.
A tese de Manganhela foi desenvolvido pelos assassinos confessos do jornalista nas sessões do julgamento.
Carlitos Rachid, Manuel Fernandes e Nini Satar disseram várias vezes que o malogrado terá sido um dos principais financiadores da operação que culminou com a eliminação física de Carlos Cardoso.
Chissano providencia funeral do filho
Contrariamente ao que tem sido habitual nos últimos anos, em que as cerimónias fúnebres de grandes figuras e seus familiares são transformadas em momentos de festa, com carros e urnas luxuosas, o antigo Chefe do Estado moçambicano, Joaquim Chissano, optou pelo simplismo nas exéquias que organizou para o filho.
As cerimónias fúnebres de Nyimpine Chissano começaram na tarde desta quarta-feira com um velório simples e modesto na Paróquia São Estêvão Lourenço da Igreja Anglicana, em Maputo. O corpo do malogrado foi depositado numa urna simples e transportado da morgue do Hospital Central de Maputo para a Igreja, também numa viatura funerária simples.
O velório de Nyimpine Chissano foi dirigido pelo Bispo da Diocese dos Libombos, D. Dinis Sengulane, auxiliado pelo Arcebispo de Maputo, D. Francisco Chimoio, e pelo padre Mabuiango. Centenas de pessoas, entre familiares, amigos, membros do Governo e do partido FRELIMO e da população encheram o salão de culto da Igreja e ainda a parte externa da mesma.
A urna contendo os restos mortais de Nyimpine chegou ao templo por volta das 16.20 horas, acompanhada pelo antigo Presidente e sua esposa, Marcelina, pela viúva de Nyimpine, Cândida Bila, e pela filha do primeiro casamento de Nyimpine, Soley. Não foi notável a presença do filho mais novo do malogrado, Peter Chissano.
A última missa para Nyimpine, antes do enterro, tem lugar esta manhã na Igreja S. Rosa de Viterbo, em Malehice, distrito de Chibuto, em Gaza, terra natal de Joaquim Chissano.
SAVANA - 23.11.2007