— Considera Chissano e acrescenta: "Até parece que estávamos a compensar pessoas por terem cometido crimes"
Por Francisco Carmona
O Presidente da Repú¬blica, Joaquim Chissano, considera que o tristemente célebre programa deno¬minado "operação produ¬ção", que se resumia em deportar pessoas para os famigerados campos de reeducação da província de Niassa e Cabo Delgado, era um projecto "cheio de humanismo".
Esta manifestação de Chissano foi feita durante uma palestra promovida pela Associação Moçambicana de Economistas (AMECON), na passada sexta-feira, em Maputo, onde apresentou o tema "Fundamento da Políti¬ca Económica de Moçam¬bique"
"Era um bom programa que visava recuperar delin¬quentes e marginais. Hoje ridicularizam-nos dizem que era um programa criminoso, enquanto estava cheio de humanismo", sublinhou, para depois repisar que "até parece que estávamos a compensar pessoas por terem cometido crimes".
Guebuza e a "operação produção"
Para muitos, a contro¬versa "operação-produção" dividiu famílias e levou inocentes, classificados pelos líderes da revolução como "desempregados e delinquentes" para centros de reeducação basicamente nas províncias de Niassa e Cabo Delgado.
Numa entrevista ao PÚ¬BLICO, em Lisboa, na última visita que efectuou a Portugal na qualidade de chefe de Estado moçambicano, Chis¬sano referiu que a "operação-produção" não foi concebida por Armando Guebuza (na altura ministro da adminis¬tração interna), mas sim, pelo Governo e o partido FRELIMO, que encarre¬garam alguém de executar uma parte dessa operação, muito complexa, e que foi positiva..
"As pessoas deram-lhe (Armando Guebuza) uma conotação completamente errada. O objectivo era devolver as pessoas margi¬nais às suas zonas de origem para serem reintegradas na sociedade", frisou.
Chissano acrescentou que, numa outra operação, foram criados centros de reeducação para delin¬quentes. "As pessoas que não sabiam o que se passava lá, chamavam a isso campos de concentração. Mas con¬sistia em criar condições de reabilitação das pessoas", entende Chissano.
Economistas bajulam o chefe
Durante a palestra-debate, os economistas passaram o tempo a elogiar o desempenho do PR ao invés de aproveitarem a oportunidade para debater políticas económicas tidas como polémicas que marcaram os 18 anos do reinado de Chissano. No evento, o actual chefe de Estado abordou, durante a sua oração, os mecanismos que rodearam a adesão de Moçambique no FMI e Banco Mundial, em 1984, até à elegibilidade do país no HIPC.
Chissano exibiu como louros da sua governação os projectos Programa de Reabilitação Económica (PRE), areias pesadas de Morna, linha de Sena e carvão de Moatize, com¬panhia agro-industrial do Búzi e revitalização do centro de desenvolvimento turístico do Gorongosa.
SAVANA – 19.11.2004