Ana Dias Cordeiro
Brown reiterou que "definitivamente" não vem sem avançar quem virá. Holanda recuou e decidiu estar presente. República Checa continua com dúvidas
Desde o início da polémica sobre a presença de Robert Mugabe na cimeira Europa-África em Lisboa, analistas de países africanos sempre se destacaram por não terem quaisquer dúvidas: se fosse convidado, o Presidente do Zimbabwe estaria em Portugal em Dezembro; se não fosse, não haveria cimeira porque muitos países africanos boicotariam o evento.
Feitos este mês os convites a todos os chefes de Estado e de Governo da UE e da União Africana (UA), restava esperar pelas confirmações. Mugabe fê-lo ontem. "Sim, vou", disse com um sorriso à agência Lusa à sua chegada a Moçambique para a cerimónia de transferência da barragem de Cahora Bassa, a convite do Presidente moçambicano, Armando Guebuza.
No mesmo dia em que a primeira-ministra moçambicana Luísa Diogo criticou a atitude de Portugal relativamente a Mugabe como não sendo "normal". E poucas horas depois de, em Washington, o ministro português dos Negócios Estrangeiros Luís Amado ter voltado a manifestar esperança na possibilidade de o Zimbabwe ser representado por outra figura que não o Presidente.
As dificuldades para Portugal sobre esta questão acentuaram-se há umas semanas com a posição do primeiro-ministro Gordon Brown. Às ameaças de boicote do Reino Unido, seguiram-se avisos de países como a Holanda e a República Checa que, por "uma preocupação" relativamente à situação dos direitos humanos no Zimbabwe, apoiaram Londres e disseram poder vir também a boicotar o encontro.
Ontem, confirmada a presença de Mugabe, Gordon Brown reiterou que "definitivamente" não virá à cimeira. A Holanda afinal estará presente. O país estará representado pelo primeiro-ministro e pelo chefe da diplomacia, confirmou ao PÚBLICO o conselheiro da embaixada.
A embaixada da República Checa, por sua vez, fez saber que ainda não há decisão e que esta será tomada por todo o Governo. Garantida está para já "pelo menos" a presença do ministro dos Negócios Estrangeiros Karel Schwarzenberg.
Para Portugal foi especialmente importante que Angela Merkel e Nicolas Sarkozy se tenham demarcado, em Outubro, da posição de Brown, o que se reflectiu num apoio de peso da Alemanha e da França à iniciativa de Lisboa.
Apesar de Londres estar agora mais isolado nesta questão, há quem insista que a vinda de Mugabe colocará problemas a Portugal ao ser susceptível de monopolizar as atenções e de levar ao fracasso do encontro.
O Governo português espera que o assunto se esgote até ao fim da próxima semana, quando começarem a chegar a Lisboa os 80 chefes de Estado e de Governo convidados para a cimeira de 8 e 9 de Dezembro.
Em entrevista à TSF, o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, João Gomes Cravinho, disse não haver qualquer "embaraço diplomático". Acrescentou: "Lamentamos profundamente que aquilo que há de inovador e transformador nas relações entre a Europa e África esteja a ser ofuscado por alguma obsessão da comunicação social em torno da presença do Presidente do Zimbabwe." E disse estar convicto de que a cimeira ficará "para a história". "Quando se fizer a história da cimeira de Lisboa, a presença de Mugabe será uma nota de rodapé", concluiu.
80 chefes de Estado e de Governo são esperados em Lisboa para a cimeira que junta 53 países da União Africana e 27 Estados da UE dias 8 e 9 de Dezembro.
PÚBLICO - 28.11.2007