Os bispos católicos de Moçambique manifestaram-se hoje preocupados com o "turvo" ambiente político que se vive no país, afirmando que os cidadãos ainda se sentem "inseguros" devido a actual democracia "titubeante e incerta".
Em comunicado, os bispos da Conferência Episcopal de Moçambique afirmam que a Igreja Católica tem vindo a acompanhar a situação social do país, mas acham que, neste momento, ela está "mergulhada em mil e um problemas".
"A igreja, como sempre, acompanha a situação da nossa sociedade. Olhando para ela, no momento actual, vemo-la mergulhada em mil e um problemas: a pobreza, a degradação dos valores morais e do tecido social, a insegurança, corrupção galopante, desavergonhada e impune", lê-se no comunicado.
"O ambiente político dá impressão de ser turvo, o que faz com que a nossa democracia se sinta titubeante e incerta no país e os cidadãos se sintam inseguros. Assim, apelamos aos fiéis para que sejam ´luz nas trevas e sal` nesta sociedade e se empenhem aceitando ir contra a corrente, remando na direcção da justiça, da verdade e do bem comum, custe o que custar", prossegue.
Na mesma nota, os clérigos demonstram ainda "preocupação" pela eventual "partidarização das instituições sociais e de direito ao acesso ao emprego, justamente aquelas que devem ser indicadoras e lugares da democracia numa sã sociedade".
Os bispos consideram também "gravosa" a situação das calamidades naturais, com todas as consequências daí decorrentes, designadamente a criminalidade e imigração e, sobretudo, a imigração clandestina.
"A criminalidade e a corrupção prosperam e levam-nos a perguntar se não terão a mesma fonte ou causa. Elas parecem não ter medo de ninguém!", acrescenta-se no comunicado.
"O flagelo do HIV/SIDA na nossa sociedade não deixa ou não deveria deixar ninguém com ilusões, pois, ele continua, e cada vez mais, ceifando vidas e fazendo desaparecer famílias inteiras", referem os bispos, que denunciam "a prostituição e a promiscuidade, quase institucionalizadas, são queiramos ou não os principais veículos do HIV/SIDA".
Segundo o Conselho Episcopal de Moçambique, a suposta deterioração da sociedade moçambicana é extensiva a própria Igreja, que tem "problema de insuficiência dos agentes pastorais em quantidade e qualidade".
"Esta Igreja local continua ainda muito limitada em meios materiais que lhes permite operar", aliás, "a formação dos agentes pastorais a todos os níveis e, consequentemente, também a formação dos próprios fiéis é uma necessidade prioritária e inadiável", consideram.
Apesar desta situação, os clérigos dizem ter verificado os esforços das autoridades governamentais no sentido de sustentar o desenvolvimento do país.
"Em vários pontos do país vão sendo construídas infra-estruturas sociais, levam-se a cabo obras de manutenção de vias de comunicação e impulsiona-se o associativismo no meio das populações", exemplificam.
"No entanto, somos também testemunhas do facto de que a vida do povo continua a ser dramaticamente dura, devido a graves carências de todo tipo e a deficiente capacidade de compra por parte do povo", apontam.
"O emprego escasseia e os preços, até de bens de primeira necessidade, sobem continuamente em todas áreas. Isto significa que o quanto se tem vindo a fazer em benefício do povo ainda está longe de responder satisfatoriamente as necessidade reais e mais urgentes das populações", concluem.
Contudo, no seu informe anual recentemente apresentado no parlamente, o Presidente de Moçambique, Armando Guebuza, considerou "bom" o estado na nação, apontando, como exemplo, os "sucessos" alcançados pelo seu executivo nas várias áreas que ditaram crescimento económico em 8.8 por cento no primeiro semestre deste ano.
NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 19.12.2007