Para quem não entende nada de economias “mundiais”, como eu, há-de achar estranho que, de repente, essas economias estão todas a melhorar, os PIBs crescem, as cidades transbordam de gente e de carros, os ares estão cheios de aviões cheios e os mares de imensos navios carregando milhões de contentores de um lado para o outro, enfim um frenesi que poderia estar a diminuir a fome e a pobreza no mundo, mas está a fazer cada vez mais biliardários.
Só em Londres, “catalogados” há cerca de uma centena. A loja da Rolls-Royce tem uma lista de espera de oitenta clientes, desde 2004, para um modelo de 460 mil Euros!
Mas este frenesi econômico cheira a falso.
Em 1973 o preço do barril de petróleo que era de US$ 2,90 saltou para $13 chegando no final de década a quase $80. O mundo parecia sufocar com esse aumento, gerando uma tremenda crise mundial. Depois baixou para cerca de $30. E a economia continuava em crise, porque nenhum produto, móvel ou imóvel, acompanhara a valorização louca do petróleo. Os “sem petróleo” resolveram que para injetar mais dinheiro em circulação a solução era o aumento do custo dos imóveis que a classe média leva 20, 30, 50 anos para pagar, o que significa que estão indefinidamente a alimentar os comilões.
Como commodities são “mercadorias úteis” que se podem vender e comprar “em futuro”, com movimento de imenso manancial de dinheiro, é óbvio que quanto mais caras as tais commodities, maior o lucro dos negociantes envolvidos, desde o produtor ao retalhista. Uma coisa é ganhar 10% sobre 10 e outra é ganhar os mesmos 10% sobre 100 ou 500! E assim o petróleo está a bater na casa dos US$100, as grandes companhias distribuidoras a ganhar cada vez mais dinheiro, os produtores a esbanjarem, como alguns sheiks, entre os quais o venezuelano e o nigeriano, sem que o povo consiga mais uma migalha que seja para se alimentar e instruir.
Enquanto isso os chineses, para garantirem o fornecimento atual e futuro desse desgraçado combustível, invadem África, investindo em obras imensas que os países depois se obrigam a pagar com os tão cobiçados barris.
Cresce o movimento das tais commodities, surgem milionários como cogumelos em esterco na floresta, cresce a economia chinesa à velocidade de foguete, e o povo, o povo... sempre o povo ficará a ver passar Rolls-Royces de ouro, enquanto luta desesperadamente para sobreviver no meio de guerras fratricidas, AIDS e Ebolas, secas e inundações, terrorismo de esquerda e de direita, jogado como bola de farrapos e esquecido dos governantes que se pavoneiam em mansões no Dubai ou dentro de carrões com ar condicionado!
Este mundo não tem conserto! Prega-se o entendimento, o amor ao próximo, o desapego dos bens terrenos, o respeito pelo meio ambiente, durante esta quadra do Natal trocam-se votos de boas festas e de um novo ano muito feliz, votos esses que se limitam a um muito restrito número de amigos ou parceiros comerciais, jamais deixando de ter como primeiro objetivo as commodities e outros negócios, sobretudo da bolsa, que tanto e tanto lucro dão.
Boas Festas... para quem? Para o Darfur, hoje exemplo da bestialidade humana?
Melhor Ano Novo... para quem? Para os vendedores de Rolls-Royce?
Mundo cão. Mesmo.
Francisco G. de Amorim - Jornal do Brasil - 20.12.2007