TRIBUNA DO EDITOR
Por Fernando Gonçalves
Gente ligada à área de negócios com quem tenho tido a oportunidade de trocar impressões sobre a actual situação no país tem-se queixado, com muita insistência, do emagrecimento das oportunidades e de uma cada vez maior escassez de dinheiro para as suas operações.
Alguns chegam mesmo a sugerir que todas as oportunidades existentes no mercado são açambarcadas por um pequeno grupo de empresários com conexões muito próximas ao poder político.
Alegam que quase todos os concursos públicos, envolvendo volumosas quantias em dinheiro, caiem nas mãos das mesmas pessoas ou empresas. Falam de uma situação generalizada de deficiente fluxo de recursos que poderá levar um grande número de empresas à falência.
Se estas informações correspondem ou não à verdade, o certo é que elas já começam a mexer com o mundo da finança internacional, que olha para Moçambique como um país de virtual monopólio, onde para se fazer “business” (negócio) é condição essencial não só estabelecer alianças políticas fortes, como também garantir que tais alianças são as mais acertadas.
Este foi o tom de um artigo sobre Moçambique publicado na penúltima edição da revista britânica The Economist, que cita uma vasta gama de elementos daquilo que se pode chamar de classe média moçambicana a declararem a sua insatisfação pela maneira como oportunidades de negócios estão a ser concentradas num punhado de homens (e mulheres) fortes ligados ao partido no poder.
Se isso nos agrada ou não, se é justo ou não, a verdade é que no mundo em que vivemos decisões importantes sobre o nosso futuro são tomadas em locais onde nós nunca estamos. Nesses locais, onde publicações como o The Economist têm uma influência determinante.
Um homem de negócios disse-me, recentemente, que na sua área de actividade não estava a conseguir fechar qualquer negócio, apesar da alta qualidade dos serviços que a sua firma presta. A única forma de se safar, dizia ele, “é juntar-me a eles. Só que não concordo com esses métodos”.
E não é só uma questão de não concordar. É que é prejudicial para a economia de um país que esta seja controlada por uma pequena oligarquia, por duas razões muito óbvias. Primeiro, porque empresas que dependem de monopólios podem acabar por estender demasiadamente as suas capacidades, conduzindo a uma situação de baixa qualidade nos serviços que oferecem ou nos bens que produzem, e dessa forma destorcer as leis de mercado.
Em segundo lugar, a íntima ligação entre o “business” e a política conduz, inevitavelmente, à corrupção. A corrupção é o pior inimigo do desenvolvimento e da prosperidade de qualquer povo.
Num ambiente em que os negócios andam embrulhados no manto da corrupção, prolifera o clientelismo, e gente séria e honesta gasta tempo, dinheiro e a sua inteligência negociando contratos e preparando documentação para concursos para depois, no fim, esbarrarem com as complexidades do burocratismo.
Num ambiente desses, os reguladores não têm o poder de realizarem o seu trabalho. Todos os princípios de boa governação corporativa caiem no dreno. A fiscalização torna-se numa simples miragem. As relações económicas com o resto do mundo ficam seriamente comprometidas.
Neste tipo de situações, a luta contra a pobreza torna-se perdida, à medida em que empresas politicamente menos conectadas entram na falência, despedem trabalhadores, e deixam de contribuir para os cofres do Estado.
Um ambiente de negócios são tem que se basear em regras justas e claras. Uma economia torna-se forte com um sistema que permite às pessoas acederem a oportunidades de negócios em de igualdade de circunstâncias, num ambiente de honestidade.
Os países menos desenvolvidos, em particular os africanos, choram cotinuamente devido às múltiplas barreiras que lhes são erguidas no seu relacionamento económico com os países mais desenvolvidos. Mas ao condenarem o Ocidente por tais práticas, precisam primeiro de demonstrar que eles próprios não as praticam dentro dos seus próprios países.
SAVANA - 14.12.2007