Damásio Chipande, Maputo
Cerca de 20 anos depois da sua aparição como "salvador" durante a última guerra, Manuel António continua tão desconhecido quer ele em pessoa como os objectivos e causas que nortearam o seu envolvimento na contenda. Mas quem foi esse homem natural de Nampula e que actuou na Zambézia, era anti-bala e ninguém conseguiu captar uma única imagem sua?
Quem foi Manuel António?
A lenda teria nascido quando a esperança se preparava para morrer. Assim se pode caracterizar o ambiente todo que se formou no período em que Manuel António Naparama apareceu, qual alma salvadora de um grupo desesperado.
Conta-se que na sexta-feira, 1 8 de Dezembro de 1987, quando ainda faltava tudo, quando a população vivia refugiada sem tempo para trabalhar, quando, resumindo, faltava a paz, Mulevala recebera uma visita divina. Alguns acreditam ser a virgem santíssima. Esperava-se por um milagre celestial.
No ano seguinte o Papa João Paulo II, beijou o solo moçambicano e orou pela paz. Em Mulevala, onde se diz que a Virgem santíssima teria aparecido acompanhada por um menino Jesus[?) e que visitara Mopeia, Melaleya, Coroa, Merca e Mucojo, já não se acreditava na força divina para acabar com a desordem dos homens.
A rebelião contra a ordem ou desordem política assim como contra a fé na cruz surgiria nesse ano ou em 1989 comandada por Manuel António Naparama. Este era um líder militar que grageara respeito e medo pela sua força. Assim diriam as populações com quem conversamos na região por onde passou. Contudo não se pode dizer que foi admirado por todos que o conheceram ou que atravessaram o seu caminho.
Os missionários católicos definiriam a actuação dos Naparamas, em 1990 como "o último trágico reduto da guerra entre etnias" e os caracterizaria de "terríveis naparamas ou bandos ou cataneiros degoladores" que "moviam-se aos saltos, seminus, sem farda, com armas brancas, com tatuagens, vacinados pelos feiticeiros" e estavam convencidos de "serem invulneráveis a armas".
Buscando vestígios
0 Pátria, conversando, em Gúruè, com pessoas que dizem ter conhecido António Naparama, pode traçar perfil de um homem de altura mediana, misterioso, firme, calmo mas com vigorosidade de um militar.
De acordo com os anciãos locais, as vitórias de Naparama e seu exército não era questionáveis. Eles estavam de lado do povo e não chocavam com o exército governamental. Os seus feitos foram espalhados pelos diferentes cantos pela Emissora Provincial e o destaque das suas actividades foi a destruição da base
M u a q u i w a (Mocuba/Maganja da Costa) onde socumbiu o temível General Calisto Meque, que era responsável pelas operações na Província da Zambézia o que contribuiu também para o enfraquecimento do poderio militar da RENAMO. Sabe-se que o remanescente daquela base fugiu para Milange, Morrumbala e Marínguè.
Supõe-se que essas fugas teriam enfurecido o líder daquele movimento, Afonso Dhlakama levando-o a mobilizar seu exército para perseguir os prevericadores.
Contudo, Naparama manteve-se imbatível até a sua morte em combate na batalha de Macuze, distrito de Namacura, Zambézia em 1991.
O mito Naparama
A sua morte é também envolvida em mitos. Conta-se que ele não podia se juntar a nenhuma mulher. Um voto de castidade que cumprira durante uma boa parte da sua vida. Contudo, poucos anos antes da sua morte, não resistindo aos apelos carnais António Naparama caiu na tentação e desposou duas mulheres. Mas essa é uma outra história.
0 outro mito da imunidade de António Naparama está relacionado com a fotografia. Não existe algum registo fotográfico que o retrate. Segundo os anciões, tanto os de Namapa, Nampula, onde dizem ter nascido, assim como os dos distritos de Zambézia onde se notabilizara como líder para-militar, dizem que as máquinas tinham incapacidade de captarem a sua imagem, não porque ele se esquivava mas porque a sua imagem não era simplesmente retratada, nenhuma máquina o conseguia captar para a posteridade.
PÁTRIA - 13.12.2007