O professor universitário sul-africano André Thomashausen considerou perigoso para uma economia forte e moderna como a África do Sul ter um presidente como Jacob Zuma, que se comporta como um `chefe tradicional africano´.
André Thomashausen, professor de direito internacional comparado na Universidade da África do Sul (UNISA), comentava à Agência Lusa a possibilidade de o actual presidente sul-africano e do Congresso Nacional Africano (ANC), Thabo Mbeki, ser derrotado por Jacob Zuma na 52ª Conferência Nacional do partido, reunida em Polokwane, província do Limpopo (nordeste), que a partir de hoje escolhe um novo líder.
`Zuma tem o perfil e o comportamento típico de um chefe tribal africano, sem educação formal, que mobiliza essencialmente o eleitorado zulu com danças, cantares e slogans, e a sua possível eleição para presidente do ANC e, eventualmente, para chefe de Estado em 2009, constitui um perigo para uma nação moderna e com uma economia industrializada como a África do Sul´, afirmou.
Para Thomashausen, Zuma - que muitos admitem vir a ser o eleito para a presidência do ANC - pode vir a ser obrigado a adoptar políticas de esquerda para pagar favores e promessas políticas feitas aos que nele votarem.
André Thomashausen, que viveu longos anos em Lisboa e fala Português fluentemente, admite que os erros de governação e as atitudes prepotentes de Thabo Mbeki lhe podem custar caro nesta conferência nacional.
`O ANC foi sempre liderado por grandes famílias de etnia xhosa, como os Tambo, os Mandela e os Mbeki, e existia um grande plano para a continuidade que passava pela passagem de testemunho de Thabo Mbeki para Ciryl Ramaphosa antes das eleições gerais de 2009´, refere o académico, para quem os erros do actual presidente podem quebrar a tradição pela primeira vez na História do movimento.
`Os mais educados politicamente que votarem por Mbeki nesta conferência fá-lo-ão com base na teoria do mal menor, pois os seus erros, evitáveis ou inevitáveis, foram muitos: o país está à míngua de energia eléctrica por culpa do mau planeamento do seu governo, a rede viária está saturada, os transportes estão em colapso, a política de saúde e a sua vertente do combate à sida é uma desgraça e muitos estão insatisfeitos com as suas práticas estalinistas de governação,´ salienta Thomashausen.
A favor de Mbeki, o académico aponta a excelente condução da economia pelo ministro Trevor Manuel, homem de confiança do actual presidente que aposta num modelo liberal de crescimento, e poderá vir a ser uma das vítimas da `guerra´ entre Mbeki e Zuma, em caso de vitória deste.
`Zuma prometeu aos investidores numa recente viagem-relâmpago aos Estados Unidos, que manteria tudo como está e que acabaria com a política de `Black Enpowerment` (ou BEE, que obriga a que 25 por cento do capital das empresas esteja nas mãos dos negros), mas depois internamente promete aos seus apoiantes dos sindicatos que aumentará a percentagem legal do BEE´, referiu.
`Prevejo que seja difícil para ele no futuro agradar a todos a quem fez promessas contraditórias´, afirmou à Lusa.
Questionado sobre o facto de outras destacadas e respeitadas figuras do ANC não surgirem na conferência do ANC como candidatos à sucessão, André Thomashausen apontou as `práticas estalinistas´ de Mbeki como a razão principal.
`Em 1999-2000, Thabo Mbeki chegou a abrir uma investigação a algumas figuras de proa, como Ciryl Ramaphosa, Tokyo Sexwale e Mathews Phosa, por suspeita de alta traição, porque estariam supostamente a conspirar contra ele, e tudo isso criou um clima de medo no seio do partido´, referiu.
Para Thomashausen, uma vitória de Zuma esvaziará igualmente a possibilidade de Mbeki avançar, antes de 2009, para a alteração da Constituição de forma a concorrer a um terceiro mandato presidencial, uma prática comum entre os ex-movimentos de libertação, mas, em contrapartida, coloca outros e severos perigos para o futuro da África do Sul associados com o populismo, o esquerdismo e o tribalismo que parece encarnar.
RTP - 17.12.2007