DIALOGANDO Por João Craveirinha Analista Um programa de Joaquim Furtado RTP - Outubro, Novembro e Dezembro de 2007 Tirando algumas omissões históricas (graves) em relação à clandestinidade política em Moçambique (década 1960) e à fundação da própria F.L.M (Frente de Libertação de Moçambique), vale a pena guardar em arquivo para estudo permanente as imagens do programa bem estruturado de Joaquim Furtado. É que nestes trabalhos terá sempre de haver um consultor abalizado e isento. Normalmente os portugueses descuram este factor de idoneidade documental africana, a razão pela qual muitas vezes a linguagem política “derrapa” e pode ser ofensiva do alto da sua “prosopopeia” como detentora da “verdade exclusiva” pelo domínio dos meios técnicos de produção em televisão. Note-se que não se pode inventar protagonismo histórico de pessoas que não as tiveram.
Reconhecendo no entanto a difícil tarefa de Joaquim Furtado e sua equipa em compilar documentários deste tipo que depende também de depoimentos de pessoas vivas. Estas sem dúvida podem se "ter esquecido" que a sua importância não foi como dizem ter sido, pois infelizmente os mortos não falam do além para as contestar. Citar de cor e salteado, sem gaguejar e sem notas, não é para qualquer um. No entanto é aos outros vivos (ainda existentes) que têm o dever de acrescentar um dia ao que faltou ser contado, se houver oportunidade para tal. Restará o registo escrito para as gerações vindouras terem uma visão mais ampla e isenta. Alguns dos nomes intencionalmente esquecidos são sem dúvida o de Adelino Gwambe e por enquanto o de Marcelino dos Santos na génese do nacionalismo pela independência moçambicana. A maioria dos que hoje falam sobre Moçambique ainda não tinham nascido e outros nem tinham consciência política e já Adelino Gwambe em África e Marcelino dos Santos na Europa, muito jovens na década de 1950, sonhavam com a independência de Moçambique, anteriores à FRELIMO, e agiram para tal. Pelo contrário, omitir estes dados, será miopia de análise. História não se compila e se descreve por se gostar ou não de determinado elemento, mesmo à posteriori. Se esse elemento foi chave no pensamento de um País no passado, por mérito pioneiro, deve ser mencionado com a sua verdadeira importância e valor naquele período. Agrade ou não a gregos ou a troianos, neste caso, a moçambicanos e a portugueses. Ser parcial em História é fazer propaganda panfletária e desfigurar o passado. No entanto é de louvar esta tentativa de Joaquim Furtado e equipa no esforço de “agradar” na narrativa, a angolanos, guineenses, moçambicanos e a portugueses. Tarefa quase impossível que se torna evidente logo pelos “3 títulos num”: A GUERRA COLONIAL /DO ULTRAMAR/DE LIBERTAÇÃO. A ver vamos dos próximos episódios se, se mantém, o mesmo nível de tentativa de “isenção” política na estrutura geral do seriado. JC (João Craveirinha) Em anexo com a devida vénia ao Fernando Gil, eis acesso aos 9 episódios da 1ª série: http://www.macua1.org/guerrajf/aguerra.html
O AUTARCA - 15.01.2008