Censo Eleitoral:
Ericino de Salema
Decorre, até 15 de Março próximo, a segunda fase do censo eleitoral. A imprensa doméstica tem estado a reportar que há muito pouca afluência dos potenciais eleitores – obviamente ainda não inscritos – aos postos para o efeito preparados. O matutino “Notícias” de hoje, por exemplo, refere que, na província de Sofala, a população prioriza a lavoura.
Quando foi da primeira fase, a imprensa reportou, acto contínuo, que os postos de recenseamento eleitoral registavam muito pouca afluência, o que se afigurava, a meu ver, como um prenúncio de fracasso daquele acto. Mas, no fim dessa primeira fase, o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) apresentou “resultados surpreendentes”!...
Se a memória não me atraiçoa, os executivos do STAE referiram que a meta previamente estabelecida foi alcançada em mais de 70 por cento. Fala-se de mais de 7 milhões de eleitores inscritos, num universo de cerca de 10 milhões. Números surpreendentes, num cenário em que muitos brigadistas passaram o tempo todo ensaiando se tornar auto-didactas de informática/computação; ora as pilhas e os combustíveis acabavam, ora as populações privilegiavam as suas estratégias de sobrevivência, como ir à lavoura, e por ai além. Mas, mesmo assim, o STAE “presenteou-nos” com “resultados surpreendentes”!...
Sem menosprezar as “lógicas” dos executivos do STAE, confesso que não creio muito nos “resultados surpreendentes” que nos foram apresentados, no meio de todas as vicissitudes retrocitadas. Que tal se quem de direito encomenda-se uma espécie de “auditoria independente” aos “resultados surpreendentes” da primeira fase do censo eleitoral?
Algumas questões simpáticas, que se inspiram na lógica da Dúvida Metódica, de René Descastes: Será que um bom “propagandista” não se pode dar ao luxo de inflacionar os números, talvez para “mostrar serviço”? A ser verdade que coisa tal ocorra, não será esta a razão das elevadas abstenções? Como é que um eleitor contabilizado sem se ter recenseado pode exercer o direito de voto? Estamos mesmo em presença de “resultados surpreendentes”?
Confesso que sentir-me-ia satisfeito se os resultados de uma hipotética “auditoria independente” confirmassem os “resultados surpreendentes” trazidos a público pelos executivos do STAE, por intermédio dos media.
As elevadas taxas de abstenção que se têm registado nos pleitos eleitorais cá da terra [85 por cento nas autárquicas de 1998; 30.49 por cento nas “gerais de 1999; 75.8 por cento nas “autárquicas” de 2003; e 63.58 por cento nas “gerais” de 2004] motivam vários comentaristas e analistas a horas e horas de “conversas”, algumas afinadas e outras nem tanto.
Quase todos esses concidadãos (comentaristas e analistas políticos) esforçam-se em explicar as possíveis causas/razões das abstenções. Acho eu que, nos próximos pleitos eleitorais, o ónus tem que ser invertido: no lugar de se procurar explicar as causas/razões das abstenções, quer me parecer que seria razoável procurar-se explicações o que leva alguns cidadãos a se interessarem em exercer o direito de voto, pois encarar a votação como “custo de oportunidade” me parece ser algo racional. Ir à lavoura, por exemplo, nada tem de irracional!
O que tentei fazer aqui, meus caros, foi exercer o direito à razão, que é muito diferente do direito a ter razão. Esta é a razão que me leva a dizer que sentir-me-ia satisfeito se os resultados de uma hipotética “auditoria independente” confirmassem os “resultados surpreendentes” trazidos a público pelos executivos do STAE, por intermédio dos media.
Ericino de Salema
Journalist & Media Researcher
Maputo-Mozambique
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