O Presidente de Moçambique, Armando Guebuza, manifestou hoje o seu apoio à exploração de biocombustíveis no país, desde que esta indústria não "deserde os moçambicanos das suas terras" ou tenha um "impacto negativo na produção alimentar".
Numa longa entrevista a dois órgãos de informação moçambicanos, hoje publicada, Armando Guebuza defendeu ainda que só a interiorização de uma "cultura de trabalho", e não a eventual existência de petróleo, podem resolver os problemas do país.
"Não queremos que a produção de biocombustíveis venham deserdar moçambicanos das suas terras, que os biocombustíveis tenham um impacto negativo na produção alimentar. Queremos é que a produção de biocombustíveis decorra nas áreas onde possa ajudar a aumentar a renda dos moçambicanos, que possa industrializar o nosso país", disse na entrevista.
Para o chefe de Estado moçambicano - que tomou posse a 02 de Fevereiro de 2005 para um mandato de cinco anos - é ainda fundamental que a refinação dos biocombustíveis seja feita no país para "trazer mais-valias".
"Ao nível do governo estamos a trabalhar no zoneamento das áreas que podem ser exploradas na produção de culturas que venham a produzir biocombustível, tendo em conta aquilo que não queremos que aconteça e aquilo que queremos que aconteça. Depois será mais fácil de definir a política, mas terá que ser definida tendo em conta a realidade do país e as condições em que a actividade se possa desenvolver", prosseguiu.
O governo de Moçambique está a definir um plano de desenvolvimento da indústria de biocombustíveis, cuja conclusão estava prevista para Dezembro. Actualmente, Moçambique importa praticamente a totalidade dos combustíveis que consome.
Numa conferência realizada recentemente em Durban, África do Sul, o ministro da Energia moçambicano, Salvador Namburete, afirmou que o executivo "recebeu no último ano [2007] pedidos de mais de cinco milhões de hectares para o desenvolvimento de [projectos de produção de] biocombustíveis".
No início deste mês, Moçambique assinou com o Brasil um acordo para o desenvolvimento dos biocombustíveis envolvendo a Petrobras, que estabelece um plano de acção a ser elaborado em 180 dias para promover a cooperação e o intercâmbio técnico.
Sobre a eventual existência de petróleo em Moçambique, o Presidente moçambicano frisou: "o petróleo ainda está a ser investigado. Vamos ter um pouco de paciência. Mas não esperemos que o petróleo resolva o problema dos moçambicanos".
No entender de Armando Guebuza, os desafios que se colocam a Moçambique vencem-se com "cultura de trabalho, formação e sobretudo emprego em pequenas e médias empresas".
O governo moçambicano tem manifestado a sua confiança na existência de reservas de petróleo no país passíveis de serem exploradas comercialmente, em especial na bacia do Rovuma (rio que separa Moçambique da Tanzânia, no norte do país) e no delta do Zambeze (centro), mas remeteu sempre para as empresas que estão na prospecção.
Na entrevista, Armando Guebuza defendeu, por outro lado, que o país deve apostar nas pequenas e médias empresas, em sectores de actividade diversificados e não apenas nos mega-projectos, pois "não é aí que reside a solução dos problemas dos moçambicanos".
Relativamente ao processo em curso de integração regional da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) - a 01 de Janeiro entrou em funcionamento a zona de comércio livre, para 2012 está prevista a união aduaneira e para 2015 um mercado comum -, Armando Guebuza exortou o país a "utilizar melhor a vantagem comparativa que tem" face aos outros países da região, sobretudo o vizinho sul-africano.
A aposta na descentralização e na agricultura, como forma de superar os estrangulamentos ao desenvolvimento do país, são duas metas das principais metas traçadas pelo presidente moçambicano para a segunda metade do seu mandato presidencial.
NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 28.01.2008