PELO menos 1688 famílias, o correspondente a cerca de 8440 pessoas de 10 bairros da vila-sede distrital de Machanga, distrito de mesmo nome, em Sofala, vítimas das inundações do rio Save, recusam-se a sair das zonas de risco, contrariando os apelos do Governo que indicam que os visados devem se afixar definitivamente em locais mais seguros e já identificados. Entretanto, 240 famílias das mesmas regiões acataram as orientações do Executivo, estando neste momento acomodadas no Centro de Reassentamento de Beia-Peia.
Maputo, Terça-Feira, 29 de Janeiro de 2008:: Notícias
O facto foi revelado quinta-feira durante a sessão extraordinária do Governo distrital inserida na visita do governador de Sofala, Alberto Vaquina, que está a avaliar e a monitorar os efeitos provocados pelas inundações, estando esta semana no norte da província, depois de ter trabalhado nos distritos do centro e sul.
Algumas vítimas entrevistadas pela nossa Reportagem no Centro de Reassentamento de Beia-Peia-1 alegam que a sua permanência nas zonas de risco se deve ao facto de as mesmas serem ricas na produção de bebidas espirituosas, o caso de “sura”, para além da prática de pesca que consideram de salvação para as suas vidas, dado que o distrito não reúne capacidades para empregar grande parte das pessoas em idade activa.
Mesmo assim, o Governo continua a envidar esforços visando garantir que os visados se fixem na zona de reassentamento previamente indicada, onde já se iniciou o processo de atalhoamento. Para assegurar que tal aconteça, existe um plano de construção de infra-estruturas básicas, como são os casos de hospitais, escolas, entre outras.
“Continuamos a sensibilizar as pessoas a retirarem-se dessas zonas. Só em casos extremos é que nós poderemos usar a força. Mas este não é o nosso desejo. A nossa vontade é ver as pessoas a retirarem-se voluntariamente porque terão tempo de retirar todos os seus bens”, anotou.
Por outro lado, ficamos a saber junto de Fernando Chimbuia, director dos Serviços Distritais de Actividades Económicas de Machanga, que devido às inundações que grassam aquela parcela do sul da província de Sofala, a segurança alimentar está seriamente ameaçada.
Explicou, para o efeito que 4800 hectares dos 800 contendo culturas diversas semeadas na primeira época agrícola foram devastadas pela fúria das águas do Save.
Para além da destruição das culturas, 47 residências de 10 dos 19 bairros existentes na vila-sede distrital ficaram completamente danificadas, segundo deu a conhecer o administrador local.
Algumas infra-estruturas públicas, como são os casos da própria administração e residência oficial do administrador e o registo e notariado ficaram por muito tempo alagadas, facto que fez com que os funcionários afectos àquela administração ficassem seis dias sem trabalhar.
A administração do distrito tem em manga um projecto de transferência da administração e, consequentemente, da vila sede para a região de Beia-Peia-1, por se tratar de uma zona segura e próxima da Estrada Nacional Número Um (N1).
Enquanto isso, a estrada principal que dá acesso à vila-sede distrital voltou a ficar praticamente intransitável, dado que ainda existem várias crateras ao longo da rodovia, facto que forçou o Executivo a abrir vias alternativas.
Muitas outras estradas que ligam a vila sede aos postos administrativos e/ ou localidades estão intransitáveis, o que tem, de alguma forma, dificultado a circulação de pessoas e bens.
Por seu turno, o governador Alberto Vaquina reconheceu ser assustador ter até então mais de 1600 famílias a insistirem em viver em zonas de risco. Recomendou, para o efeito, que a administração local envolva os líderes comunitários na sensibilização dos visados.
Vaquina indicou que as autoridades locais devem incutir nos camponeses a necessidade de apostarem na mapira do ciclo curto para minimizar a situação de eventual registo de bolsas de fome no distrito.
EDUARDO SIXPENCE