MARCO DO CORREIO
Por Machado da Graça
Olá Juliana
Como está, minha amiga? O teu marido e as crianças estão bem?
Cá em casa, felizmente, está tudo normal.
Onde as coisas não estão normais, e é por isso que te estou a escrever hoje, é na baixa de Maputo. Mais exactamente em frente à Biblioteca Nacional.
Passei lá à porta, um dia destes, e fiquei estarrecido.
Alguém teve a ideia brilhante de plantar um muro em frente à Biblioteca. Sim, um muro de blocos de cimento, razoavelmente alto. Assim a olho eu diria com 1m e meio de altura. E um buraco, no meio, aparentemente para deixar entrar as viaturas. Sim, porque visto de fora
aquilo parece ser para criar um espaço de estacionamento lá dentro.
Só que quem construiu aquela abominação, e quem a deixou construir não têm sensibilidade suficiente para perceber que aquela fachada da Biblioteca Nacional, a par da fachada dos Correios, da mesma época e do mesmo estilo arquitectónico, faz parte da beleza daquela avenida principal da nossa cidade.
Tapar aquilo com um tal muro ultrapassa todas as mais elementares regras do bom gosto urbano. É uma enormidade. É obsceno.
Mas eu pergunto-me: Não há no Conselho Municipal ninguém que tenha que dar uma opinião antes de um qualquer mentecapto levantar um muro onde bem lhe apetece?
A baixa da capital não tem regras especiais que tenham que ser respeitadas antes de se autorizar qualquer um a colocar um bloco de cimento em cima de outro?
Estamos na selva urbana completa?
Pelo que li, há pouco, a Biblioteca Nacional tem cada vez menos livros e cada vez mais problemas. Será que a ideia é fazer subir o muro até deixar de se ver a Biblioteca, completamente, devido à vergonha com aquilo que lá dentro se passa?
Se a razão é essa talvez eu possa concordar, mas, nesse caso, avisem, que eu tenho uma lista longa de edifícios onde seria útil fazer o mesmo.
E alguns são bem altos, como o Ministério do Interior, por exemplo.
Se a razão não for essa, se tiver tudo sido um mal entendido, uma distracção, penso que seria urgente alguém mandar deitar abaixo aquele muro da nossa vergonha, repondo a beleza da fachada da Biblioteca Nacional na sua dignidade agora ferida.
E, talvez, o autor da ideia devesse ser condenado a ser ele próprio, de martelo em punho, a derrubar o disparate que mandou construir.
Para que, enquanto lhe doessem os calos nas mãos, pensasse duas vezes antes de mandar fazer
coisas daquelas.
E para, ao mesmo tempo, desanimar os colegas e amigos de mandarem construir outros muros em frente dos edifícios históricos onde se situam as suas respectivas instituições.
O boçalismo deve ter limites e não se pode autorizar que esses limites sejam ultrapassados.
Mas será que alguém, com bom senso e bom gosto, irá ler esta nossa correspondência, Juliana?
E será alguém com poder para derrubar o disparate?
Esperemos que sim...
Um beijo para ti, amiga, do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ - 24.01.2008