REGRESSARAM COM AMARGURAS GRAVES
Os 136 jovens finalistas do ensino superior em Moçambique envolvidos na terceira edição do projecto de férias desenvolvendo o distrito já regressaram à Maputo, com um fardo de amargura nas suas consciências, porquanto, foram discriminados, pois, as pessoas sentiam-se ameaçadas com a chegada de técnicos superiores, e alguns directores que deviam ser os principais encorajadores destes jovens, igualmente, “sentiam-se ameaçados”.
Revelaram os finalistas que “eles não olhavam muito para o contributo que nós poderíamos dar para o funcionamento das instituições”.
Estes jovens estiveram a trabalhar em três províncias do Centro e Norte do país, nomeadamente Tete, Zambézia e Nampula.
Entrevistados os jovens finalistas disseram que foram bem recebidos pelos governos locais mas algumas pessoas olhavam para eles como ameaça de quem vai “roubar” o seu lugar (emprego).
Esta situação, de acordo com os mesmos, fez com que nos primeiros dias do trabalho houvessem dificuldades, porque precisando de alguma informação útil não era facultada.
Depois de alguma “sensibilização” e convivência, as pessoas perceberam que os finalistas estavam lá para aprender mais e ajudar a resolver alguns problemas com base do conhecimento adquirido ao longo destes anos.
“. Nós íamos buscar e trocar experiências”, relatou Elias Mula, finalista do curso de Medicina, que esteve a
trabalhar na Província de Cabo Delgado.
“Apesar deste tipo de dificuldades, nós conseguimos fazer o nosso trabalho e acredito que ajudamos muito a melhorar algumas coisas no funcionamento dos distritos”, acrescentou, por seu turno, Angélica Zucula, formada em História, com especialidade em documentação, que esteve a trabalhar na Secretaria do Distrito de Chiúre, também em Cabo-Delgado.
Elias Mula, contando a sua experiência, referiu que a questão das vias de acesso é uma grande preocupação, uma vez que se corre grande risco de perder os pacientes durante a transferência deste de um ponto para o outro.
Mula contou que houve casos de doentes que tiveram que ser devolvidos quando estavam a ser transportados de um Posto para um Centro de Saúde, por causa das vias de acesso.
“É preciso melhorar as vias de acesso, porque nos casos de emergência a situação fica complicada e o paciente pode perder a vida. Tivemos um caso de uma paciente que estava em serviço de parto e devia ser transferido para um centro de saúde.
O paciente teve que ser encaminhado de volta ao Posto porque a via não estava em condições”, sublinhou Mula.
Este jovem disse ter se constatado igualmente que há fraquezas no trabalho de sensibilização das populações sobre a prevenção de doenças como a malária, HIV/SIDA, entre outras.
Segundo ele, a sensibilização, em tais locais, é feita apenas nas escolas e por um período muito curto.
“A população que vive no interior é maioritariamente analfabeta e não há trabalhos de sensibilização com essas comunidades do interior”, apontou a mesma fonte.
Outras constatações dos finalistas foram a falta de água potável, energia, professores, profissionais da saúde, entre outras dificuldades.
Em relação a falta de escolas, Angélica Zucula revelou que todos os graduados da 10/a classe no distrito de Chiúre ficaram sem afectação, porque não existem escolas que leccionam a 11/a e 12/a classes.
O projecto Férias Desenvolvendo o distrito, uma iniciativa da Associação dos Estudantes Finalistas Universitários de Moçambique (AEFUM), que vai na sua terceira edição, já começou a dar frutos.
Um total de 63 jovens estão empregados em vários distritos do país graças a este tipo de iniciativas.
(Fátima Mimbire-AIM) - DIÁRIO DE NOTÍCIAS - 22.02.2008