Gouvea Lemos e Ricardo Rangel
A ortodoxia da Frelimo tentou durante muitos anos passar uma esponja sobre o jornalismo de qualidade e militância que se fez no tempo colonial. Títulos como A Tribuna e a revista Tempo foram de algum modo tratados com sobranceria e algum desde, passando-se ao lado da história e do percurso que estes títulos representaram. Pela pena do seu irmão Vítor Lemos, residente no Brasil, prestamos hoje homenagem no SAVANA a uma das referências incontornáveis do jornalismo feito em Moçambique na experiência efémera que foi A Tribuna por onde também passaram Ricardo Rangel, José Luís Cabaço e Luís Bernardo Honwana.
7 de outubro de 1962. Ao romper do dia, a data era saudada na redacção do jornal com brindes e hurras: estava sendo lançado o primeiro número da Tribuna em Lourenço Marques, capital de Moçambique. À frente de uma elite de jornalistas, e contratado com plenos poderes para criar algo novo na imprensa local, Gouveia Lemos via nascer, junto com o sol, a realização de um velho sonho. O dia começava abafado em Lourenço Marques. Gouveia Lemos (o nosso Veríssimo) abria a porta de casa exausto mas feliz. O sol despontava no oceano Índico, o bairro Bico Dourado ainda parecia dormir. Respirou fundo antes de entrar, olhou uma cesta com mantimentos na calçada junto à porta, deu dois passos no corredor escuro, quase se chocou com a negra Mamana Rabeca. Bom dia, Mamana, que cesta é essa aí fora? O homem deixou aí prás crianças, patrão. Que homem, Mamana? Não sei, patrão, é o homem da rua. Outra vez, o homem da rua – saiu murmurando Veríssimo.
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