Por Fernando Manuel
NAQUELA madrugada chuvosa de finais de Fevereiro, sentados lado a lado na esplanada do GOA, figurávamos dois náufragos solitários tenazmente agarrados às suas tábuas de salvação: dois copos cilíndricos de base dura, cano curto dentro do qual tremeluziam cubos de gelo dentro de um líquido amarelo açafrão: uísque.
De tempos a tempos, um par de faróis tresmalhados de um carro tresmalhado levado por alguém ainda mais tresmalhado passava em frente pela faixa lateral arrancando revêrberos de cristal da água sobre o asfalto e, tão silenciosamente como surgia, assim se deixava engolir pela distância, a luz que rareava.
Silêncio.
Silêncio quebrado apenas pelo chicotear das bátegas da chuva de encontro ao asfalto, ao cimento do passeio, as copas lacrimejantes das acácias.
Ele virou-se para mim e disse, sem me olhar: “ sabe, mano: há muita gente que não acredita, mas a verdade é que sou muito tímido “.
Olhei para ele e quis que o meu olhar lhe dissesse: “ não gozes comigo, J.P”. Ele deve ter percebido porque, quase sem transição, passou a contar-me que uma vez, estando a abrilhantar as noites de um hotel em Windoeck, sob contrato, aconteceu detectar, todas as noites, entre os convivas, um “ monumento de mulher. Era uma mulata herero, por quem caí de beiço”.
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