A POPULAÇÃO de Mathlemele, um dos bairros em expansão no município da Matola, mostra-se preocupada com o parcelamento em curso, embora reconheça que se trata de um processo irreversível para um ordenamento territorial harmonioso. A inquietação surge pelo facto de se tratar de uma zona rural, onde a base da vida das pessoas é a agricultura e criação de gado, ficando assim reduzida ou até eliminada a única fonte de sobrevivência.
Maputo, Quinta-Feira, 21 de Fevereiro de 2008:: Notícias
Para além das zonas habitacionais onde primeiro deverão ser enquadrados os nativos para depois acomodar outros interessados provenientes doutros bairros, é para Mathlemele que está projectado e foi demarcado o novo aterro comum entre Matola e Maputo.
A outra preocupação dos residentes daquela área é a falta de água, uma vez que aquele povoado não é atravessado por nenhum tipo de curso de água, afigurando-se como única fonte de abastecimento do precioso líquido os poços tradicionais, que pelo crescimento acelerado da população começa a escassear.
Feliciano Chaúque, um dos moradores daquele povoado, disse que a tendência de urbanização vem alterar aquilo que é o modo de vida que as pessoas vinham levando, mas todos percebem que há uma necessidade de aceitar o crescimento urbano, mas não deixou de apelar para o respeito às vontades dos nativos.
“Não temos outra alternativa senão aceitarmos estas mudanças, mas é necessário que se respeite a vontade dos nativos. Estão a ser parcelados os talhões. É preciso que sejam enquadrados primeiro os naturais depois é que serão os que vêm de fora do bairro. Outra questão que nos preocupa é que a base de vida da nossa população é a agricultura e com esta urbanização deixa de existir essa fonte e é preciso encontrar alternativas para as pessoas viverem, porque já não podemos continuar a cultivar as nossa machambas”, disse Feliciano Chaúque.
Por seu turno, Chiluvanhane Mucavele, um outro residente de Mathlemele, lamenta também o facto de o processo de desenvolvimento mexer naquilo que é a vida normal das pessoas e muitas vezes sem se ter em consideração as alternativas necessárias para a continuação da vida normal das pessoas.
“As nossa machambas serão transformadas em aterro sanitário e talhões para habitação. A partir dessa altura fica eliminada uma importante fonte de sobrevivência das pessoas e há que encontrar alternativas. Pessoalmente acho que o parcelamento vai trazer benefícios na forma de estar no bairro e outras infra-estruturas poderão ser implantadas, mas é fundamental que se tenha em consideração que as pessoas viviam de machamba. Temos também a falta de água nesta zona e seria bom que as estruturas administrativas fizessem alguma coisa para a sua instalação”, referiu.
Entretanto, Ernesto Monteiro, líder comunitário de Mathlemele, considera que não há razão de queixa por parte dos residentes porque está tudo acautelado em termos de espaço para parcelamento, prática de agricultura e pastagem do gado. Porém, a falta de infra-estruturas básicas para a vida das pessoas continua a ser uma grande preocupação.
“Não podemos negar a urbanização e na medida do possível está a ser tudo feito no sentido de garantir os direitos dos naturais. Quando se faz o parcelamento a prioridade é dos nativos. No nosso povoado há falta de tudo, não temos posto de saúde, mercado, nem energia e acreditamos que com este processo poderemos vir a beneficiar destas e outras infra-estruturas importantes”, disse Monteiro, para quem todos devem colaborar para o desenvolvimento comum.