A visita a Moçambique no final de Março do Presidente da República portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, acontece numa altura em que deixou de existir qualquer "nuvem no horizonte" das relações entre Maputo e Lisboa, que já eram de "cooperação excelente".
A opinião foi expressa pelo secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação português, João Gomes Cravinho, que hoje chegou a Maputo para encontros com as autoridades moçambicanas destinados a preparar a visita do chefe de Estado português e avaliar a cooperação entre os dois países.
"A relação com Moçambique é excelente, é muito forte e aquilo que assistimos agora, o momento da reversão de Cahora Bassa para mãos moçambicanas, é evidentemente um marco na relação entre os dois países e isso de algum modo corresponde a uma necessidade histórica. Estamos agora numa fase em que não há nenhuma dificuldade no horizonte", disse o governante português.
E acrescentou: "Durante muitos anos, as relações eram muito boas, mas havia sempre aquela dificuldade do problema de Cahora Bassa. Estamos agora sem nenhuma nuvem no horizonte e com todas as condições para uma cooperação excelente entre Portugal e Moçambique".
A visita do Chefe de Estado português a Moçambique realiza-se num momento de elevado simbolismo - considerado mesmo por muitos analistas de transição e relançamento - na relação entre os dois países, depois de há cerca de quatro meses ter sido concluído em definitivo o processo de reversão definitiva da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB).
Depois de mais de 30 de avanços e recuos, o primeiro-ministro português, José Sócrates, e o Presidente moçambicano, Armando Guebuza, assinaram finalmente em Outubro de 2006, em Maputo, o acordo de reversão, nos termos do qual Maputo passou a deter 85 por cento da mega-barragem no Songo, reduzindo Portugal a sua participação para 15 por cento.
A reversão acabaria por se consumar em definitivo a 27 de Novembro do ano passado.
Apesar disso, o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros português reforçou que as relações entre Lisboa e Maputo são "de continuidade".
"Não há neste momento nenhuma dificuldade entre os dois países, no campo da cooperação, das relações políticas, económicas, todos os actores envolvidos têm todas as oportunidades para trabalhar muito bem", frisou.
A cerca de um mês da visita de Cavaco Silva a Moçambique - apontada para 24, 25 e 26 de Março - Lisboa e Maputo estão também a "fazer sempre o ponto de situação da cooperação" bilateral.
"Temos daqui por um mês a visita do senhor Presidente da República a Moçambique e é importante verificar como estão todos os sectores, particularmente os sectores com os quais ele terá contacto", comentou João Gomes Cravinho.
Portugal e Moçambique assinaram no início de Fevereiro do ano passado um Programa Indicativo de Cooperação (PIC) para o triénio 2007-2009, que prevê a concentração do apoio em projectos específicos "para evitar a dispersão", nomeadamente a Ilha de Moçambique e o parque natural da Gorongosa.
"Não há nenhuma preocupação em relação a nenhuma área, pelo contrário, estamos a navegar de vento em popa. Os resultados demoram algum tempo a aparecer, como é natural. O desenvolvimento não é algo que se possa pensar num horizonte de curto prazo. E nós estamos cá para o médio e longo prazo, para trabalhar com as autoridades moçambicanas da forma muito satisfatória como temos trabalhado até agora", disse.
Por seu turno, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros de Moçambique, Henrique Banze, qualificou a visita do Presidente da República português a Moçambique como uma oportunidade para reforçar o "já histórico relacionamento" entre os dois países.
"Sem dúvida que é o reforço do já histórico relacionamento entre Moçambique e Portugal e vamos sem dúvida rever aquilo que é a nossa cooperação e tentar fortalecer o que temos vindo a fazer, particularmente em relação a este novo programa que já iniciámos há algum tempo", afirmou.
O governante moçambicano defendeu ainda que moçambicanos e portugueses devem estar "cada vez mais relacionados" no "mundo global" da actualidade.
No seu primeiro dia de visita a Moçambique, João Gomes Cravinho reuniu-se com os ministros moçambicanos da Educação, Aires Aly, Ciência e Tecnologia, Venâncio Massingue, e do Interior, José Pacheco.
Para terça-feira de manhã está prevista a participação na tomada de posse do novo Conselho Directivo da Escola Portuguesa de Moçambique e uma visita ao quartel-general do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) de Moçambique, que se tem notabilizado no combate às consequências das cheias no país e que foi o principal beneficiário da ajuda concedida por Portugal a Moçambique após as inundações deste ano.
NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 25.02.2008
NOTA:
Volta João Cravinho a falar de Cahora Bassa. Mas quando saberá o povo português quanto pagou para que Moçambique dele beneficie plenamente? E que tal torna Portugal no maior doador de Moambique? Também um dia se saberá porque, na realidade, Samora Machel não nacionalizou Cahora Bassa. Todas as "verdades" virão, um dia, ao de cima. Assim o espero.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE